23 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 88



No capítulo anterior...
- Joaquim parte de Belém com destino a São Paulo. Ele procura alguém no ônibus mas não encontra
- Numa parada Joaquim encontra Carlete e eles falam do sonho de viver em São Paulo
- Gilberto se sente sozinho em casa e relembra dos natais que passava com a família
- Joana capricha na produção. Ela fantasia o encontro com Ricardo, o vizinho bonitão

CAP. 88

Joana termina de se arrumar. Discretamente vai pra sala e dali para o portão. Mas para sua surpresa, a casa de Ricardo está toda apagada.

JOANA (para si mesma): Será que ele saiu? Danadinho... Então foi por isso que não falou nada... O safado já tava de plano de me dar o cano... Mas deixa estar... Eu te pego na reta, seu sacana!

Gilberto caminha pela rua, mas não vê movimento algum. A cidade parece morta. Euforia mesmo só nas casas, onde há muitas luzes acesas, crianças correndo, música alta...

GILBERTO (para si mesmo): Diacho! Não tem nada nessa cidade! Onde se meteu todo mundo?

O rapaz chega ao hotel onde morava e encontra um conhecido, o recepcionista.

GILBERTO: Boa noite, José! Feliz Natal!
JOSÉ: Feliz Natal pra você também, rapaz! E aí, vai cear aonde?
GILBERTO: Em lugar nenhum, eu não tenho parentes aqui na cidade. Minha família mora toda em Joanésia...
JOSÉ: E você não quis ir pra lá?
GILBERTO: Querer eu até queria, mas não posso. Meu pai tá brigado comigo, entende? Minha presença não seria bem vista lá...
JOSÉ: Mas Natal é dia de paz, de harmonia, seria uma boa oportunidade pra fazer as pazes...
GILBERTO: Mas com o meu pai não tem essa conversa não, o velho é turrão que só ele.
JOSÉ: Entendo. Mas e aqui, em Ipatinga, você não tinha lugar nenhum pra ir?
GILBERTO: Então, um amigo até me convidou pra ir pra casa da família dele, mas eu não conheço ninguém lá, só ele. Achei que ia fica muito deslocado...
JOSÉ: É chato mesmo, chegar num lugar estranho, sem conhecer ninguém...
GILBERTO: O jeito é ficar sozinho mesmo... Mas não imaginei que fosse tão ruim. Dá uma saudade da casa cheia de gente, da família, de tanta coisa que a gente fazia lá... Engraçado, quando morava lá eu nem dava valor a nada disso, parecia tão comum, às vezes até sem graça.
JOSÉ: É, meu rapaz, a gente só dá valor nas coisas quando perde. A vida é assim mesmo. Mas você é jovem, ainda tem muita coisa pra viver nessa vida. Esse Natal é só o primeiro que você passa sozinho, muitos outros virão... Daqui a pouco você vai construir a sua família, vai ter os seus filhos, a sua mulher, e tudo recomeça de novo...

Gilberto fica pensativo e distante.

Em seguida ele vai à rodoviária, único lugar onde há algum tipo de movimento. No boteco, toma uma cerveja, mas continua sozinho, porque todos que estão à sua volta são estranhos.


No Recife, o clima é de festa na casa de Juarez e Lourdes: árvore de Natal na sala, música natalina de fundo. A família se confraterniza.

Chega a hora da revelação do amigo secreto. Cada um faz o seu discurso antes de entregar seu presente. Juarez é o penúltimo a revelar seu amigo.

AIRTON: Vai ser breve no discurso, pai? Porque eu tô morrendo de fome...
JUAREZ (para Airton): Vou filho, pode ficar tranquilo. (para todos) Bom, quero dizer que é um prazer ter a nossa família reunida. Nesse momento de festa e confraternização, que é o Natal, é uma felicidade pra um pai ter a sua família em paz, em harmonia. Que Deus nos abençoe e que seja sempre assim...
GERSON (interrompendo): Pai, mas o senhor falou que não ia fazer discurso...
SIMONE: Isso aqui não é a formatura do batalhão, pai...
LOURDES: Gente, deixa o pai de vocês falarem, que coisa! Que desespero...
D. TITA: É, certas coisas não mudam em lugar nenhum: a ansiedade das crianças é sempre a mesma...
JUAREZ (pega a caixa com o presente): Tá bom, tá bom... Vou direto ao assunto. O meu amigo é um cara muito bacana, o mais estudioso da família, o xodó da vovó...

TODOS (em coro): Bernardo! Bernardo! Bernardo!

Bernardo abraça e beija o pai, recebe o presente. Abre e mostra uma bela camisa.

BERNARDO: Bom, como eu sou o último, não tem segredo: o meu amigo é a Simone. (entrega o presente, beija-a, etc.)
LOURDES: Já que estavam todos famintos, então vamos pra mesa que a ceia tá servida.
BERNARDO (interrompendo) Ei, pera aí que eu tenho uma coisa pra dizer. (todos se voltam pra ele) Antes de irmos pra mesa, eu quero aproveitar a família toda reunida aqui pra dizer uma coisa.
JUAREZ: Que foi filho? Que coisa importante é essa?

Bernardo esfrega as mãos, tenso, pensa, olha para todos. Um suspense toma conta do ambiente.

BERNARDO: Eu quero aproveitar todos aqui pra dizer que... Pra dizer que eu... Eu... Eu sou... (respira fundo) Eu sou gay! É isso: eu sou gay!

Suas palavras caem como uma bomba. Todos ficam chocados.

Continua amanhã...


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Processo de identidade sexual: "sair do armário" - Muitas pessoas que se sentem atraídas por membros do seu próprio sexo experimentam um processo chamado de "saída do armário" em algum momento de suas vidas. É a prática de revelar publicamente a orientação sexual de uma pessoa "enrustida".

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