No capítulo anterior...
- Joaquim parte de Belém com destino a São
Paulo. Ele procura alguém no ônibus mas não encontra
- Numa parada Joaquim encontra Carlete e eles
falam do sonho de viver em São Paulo
- Gilberto se sente sozinho em casa e
relembra dos natais que passava com a família
- Joana capricha na produção. Ela fantasia o
encontro com Ricardo, o vizinho bonitão
CAP. 88
Joana termina de se arrumar.
Discretamente vai pra sala e dali para o portão. Mas para sua surpresa, a casa
de Ricardo está toda apagada.
JOANA
(para si mesma): Será que ele saiu? Danadinho... Então foi por isso que não
falou nada... O safado já tava de plano de me dar o cano... Mas deixa estar...
Eu te pego na reta, seu sacana!
Gilberto caminha pela rua, mas
não vê movimento algum. A cidade parece morta. Euforia mesmo só nas casas, onde
há muitas luzes acesas, crianças correndo, música alta...
GILBERTO
(para si mesmo): Diacho! Não tem nada nessa cidade! Onde se meteu todo mundo?
O rapaz chega ao hotel onde
morava e encontra um conhecido, o recepcionista.
GILBERTO: Boa
noite, José! Feliz Natal!
JOSÉ: Feliz
Natal pra você também, rapaz! E aí, vai cear aonde?
GILBERTO: Em
lugar nenhum, eu não tenho parentes aqui na cidade. Minha família mora toda em
Joanésia...
JOSÉ: E
você não quis ir pra lá?
GILBERTO: Querer
eu até queria, mas não posso. Meu pai tá brigado comigo, entende? Minha
presença não seria bem vista lá...
JOSÉ: Mas
Natal é dia de paz, de harmonia, seria uma boa oportunidade pra fazer as
pazes...
GILBERTO: Mas
com o meu pai não tem essa conversa não, o velho é turrão que só ele.
JOSÉ: Entendo.
Mas e aqui, em Ipatinga, você não tinha lugar nenhum pra ir?
GILBERTO: Então,
um amigo até me convidou pra ir pra casa da família dele, mas eu não conheço
ninguém lá, só ele. Achei que ia fica muito deslocado...
JOSÉ: É
chato mesmo, chegar num lugar estranho, sem conhecer ninguém...
GILBERTO: O
jeito é ficar sozinho mesmo... Mas não imaginei que fosse tão ruim. Dá uma
saudade da casa cheia de gente, da família, de tanta coisa que a gente fazia
lá... Engraçado, quando morava lá eu nem dava valor a nada disso, parecia tão
comum, às vezes até sem graça.
JOSÉ: É,
meu rapaz, a gente só dá valor nas coisas quando perde. A vida é assim mesmo.
Mas você é jovem, ainda tem muita coisa pra viver nessa vida. Esse Natal é só o
primeiro que você passa sozinho, muitos outros virão... Daqui a pouco você vai
construir a sua família, vai ter os seus filhos, a sua mulher, e tudo recomeça
de novo...
Gilberto fica pensativo e
distante.
Em seguida ele vai à
rodoviária, único lugar onde há algum tipo de movimento. No boteco, toma uma
cerveja, mas continua sozinho, porque todos que estão à sua volta são
estranhos.
No Recife, o clima é de festa
na casa de Juarez e Lourdes: árvore de Natal na sala, música natalina de fundo.
A família se confraterniza.
Chega a hora da revelação do
amigo secreto. Cada um faz o seu discurso antes de entregar seu presente.
Juarez é o penúltimo a revelar seu amigo.
AIRTON: Vai
ser breve no discurso, pai? Porque eu tô morrendo de fome...
JUAREZ
(para Airton): Vou filho, pode ficar tranquilo. (para todos) Bom, quero dizer que
é um prazer ter a nossa família reunida. Nesse momento de festa e confraternização,
que é o Natal, é uma felicidade pra um pai ter a sua família em paz, em
harmonia. Que Deus nos abençoe e que seja sempre assim...
GERSON
(interrompendo): Pai, mas o senhor falou que não ia fazer discurso...
SIMONE: Isso
aqui não é a formatura do batalhão, pai...
LOURDES: Gente,
deixa o pai de vocês falarem, que coisa! Que desespero...
D. TITA: É,
certas coisas não mudam em lugar nenhum: a ansiedade das crianças é sempre a
mesma...
JUAREZ
(pega a caixa com o presente): Tá bom, tá bom... Vou direto ao assunto. O meu
amigo é um cara muito bacana, o mais estudioso da família, o xodó da vovó...
TODOS (em coro): Bernardo! Bernardo! Bernardo!
Bernardo abraça e beija o pai,
recebe o presente. Abre e mostra uma bela camisa.
BERNARDO: Bom,
como eu sou o último, não tem segredo: o meu amigo é a Simone. (entrega o
presente, beija-a, etc.)
LOURDES: Já
que estavam todos famintos, então vamos pra mesa que a ceia tá servida.
BERNARDO
(interrompendo) Ei, pera aí que eu tenho uma coisa pra dizer. (todos se voltam
pra ele) Antes de irmos pra mesa, eu quero aproveitar a família toda reunida
aqui pra dizer uma coisa.
JUAREZ: Que
foi filho? Que coisa importante é essa?
Bernardo esfrega as mãos,
tenso, pensa, olha para todos. Um suspense toma conta do ambiente.
BERNARDO: Eu
quero aproveitar todos aqui pra dizer que... Pra dizer que eu... Eu... Eu
sou... (respira fundo) Eu sou gay! É isso: eu sou gay!
Suas palavras caem como uma
bomba. Todos ficam chocados.
Continua amanhã...
>>>>>>>>>>>>>>>>
Você sabia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário