30 de jun. de 2012

GLS TEEN - CAP. 198



No capítulo anterior...
- Com muita dificuldade Gilberto consegue chegar com Hoffmann ao hospital e ele é socorrido
- Na manhã seguinte, Gilberto visita Hoffmann no CTI e este lhe agradece por tamanha dedicação
- O médico informa a Gilberto que o caso de Hoffmann é grave e caso ele sobreviva, poderá ficar com sequelas
- Lourdes e Juarez resolvem aceitar Betina e lhes dão seu apoio incondicional
- Tatão e Vanilda não aceitam o relacionamento lésbico de Joana e mais uma vez eles discutem
- Bebel faz ponto na avenida e percebe um assessor do Senador rondando a área. Ela fica preocupada
- Durante a madrugada o caso de Hoffmann se agrava. Ele não resiste e morre
- O médico particular revela a Gilberto que Hoffmann era portador de HIV. Gilberto se desespera
- Algumas semanas se passam
- Gilberto, Betina, Bebel e Joana saem correndo do elevador e se chocam com Lorraine derrubando todas as suas coisas. A cena se repete, como no dia em que se conheceram, só que agora, cada um está apressado por um motivo

CAP. 198

LORRAINE (brincando): Ah não! Peguem todas essas coisas no chão! Ou a tia Lorraine vai ficar muito zangada com vocês.

Rapidamente todos apanham as coisas espalhadas pelo piso e recolocam nas sacolas. Em silêncio.

LORRAINE: Alguém pode me explicar que correria é essa? Aonde vocês vão tão apressados?

JOANA: A Célia tá me esperando ali no carro. (e vai saindo)
BEBEL (cochicha): Tem alguém me esperando (e mostra a assessora do Senador). Depois te conto. (e sai, se recompondo)
BETINA: Você não vai acreditar! O meu amor tá aqui em Brasília. Eu preciso vê-lo! Na volta a gente conversa. (e sai)
GILBERTO: Eu tô indo ali. Reza por mim.

LORRAINE (para o porteiro): Gente! Mas como essa molecada tá misteriosa hoje... Minha Santa Katiê, protetora das bichas, o que tá acontecendo?

Joana entre no carro de Célia.

JOANA: Demorei, gata?
CÉLIA: Bastante. Algum problema?
JOANA: A barra lá em casa tá muito pesada. Tô brigando direto com meus pais. Hoje eu rasguei o verbo: falei que você tava me esperando aqui, que a gente ia sair junto e pronto. Tô cansada de ficar inventando desculpas.
CÉLIA: Fez bem. A verdade é sempre a melhor arma e querendo ou não, eles vão ter de aprender a conviver com ela.
JOANA: Pior que meu pai é cabeça dura demais. Caretão. Eu pedi a Lorraine pra falar com eles pra frequentarem aquele grupo de ajuda de pais de homossexuais, aquele pessoal que te falei que ajudou a família da Betina. Mas ele não quis de jeito nenhum. Falou assim que além da vergonha de ter uma filha lésbica que ele ainda vai ser obrigado a expor a vida dele e da família na frente de estranhos. Que ele não vai nem amarrado...
CÉLIA: Complicado. Mas vamos dar tempo ao tempo, quem sabe ele não muda de atitude?
JOANA: Eu já dei tempo demais. E é por isso que eu tomei uma decisão: eu aceito a sua proposta de morar com você. Nem que pra isso eu tenha que romper com os meus pais.
CÉLIA: Jura? Não acredito! Ai, como eu fico feliz com isso! (e aperta as suas bochechas)
JOANA: É a minha felicidade que tá em jogo, poxa! Se eu não tiver o direito de decidir o que é melhor pra mim, quem vai ter?
CÉLIA: Tá certo. Tô muito orgulhosa de você. Bom, então vamos lá, na “nossa” casa, dar uma ajeitada nas coisas, que é pra hora que você chegar estar tudo preparado.

As duas sorriem felizes. Célia liga o carro e sai.

Na clínica, Dr. Veras lê os laudos do exame e confirma os resultados para Gilberto.

DR. VERAS: O senhor entendeu certo seu Gilberto, é isso mesmo: o senhor não foi contaminado e não tem o vírus HIV. Felizmente.
GILBERTO: Graças a Deus! Esses foram os piores dias da minha vida! Desde o dia que tirei aquele sangue até hoje, nem dormir eu não dormia direito. Não parava de pensar nisso.
DR. VERAS: É como eu te disse: se vocês usavam preservativo, se faziam tudo com segurança, não havia com que se preocupar.
GILBERTO: É, mas só fato de ter transado com uma pessoa que tinha HIV me deixou em pânico. Se eu soubesse disso antes, nunca teria transado com ele.
DR. VERAS: Bom, isso significa que você deve continuar a se prevenir, com todos os parceiros. Lembre-se: quem vê cara, não vê HIV. Às vezes a pessoa tá com uma aparência ótima, não tem sinal algum, e pode ser portadora do vírus. Pode ser que ao longo da sua vida você já tenha transado com outras pessoas portadoras e nem tenha ficado sabendo. Então, a melhor arma é sempre a precaução. Sexo é muito bom, mas a gente precisa estar vivo. Por isso, sexo seguro sempre, ok?
GILBERTO: Sim senhor. De agora em diante vou tomar mais cuidado ainda.
DR. VERAS: Além do sexo seguro, é importante você fazer exames de tempos em tempos. Para o seu próprio bem. Porque quando a pessoa contrai o vírus, quanto antes ela iniciar o tratamento, melhor.
GILBERTO: Entendi. Muito obrigado, doutor.

Gilberto sai do consultório leve como uma pluma. Ele não consegue disfarçar a euforia, ri sozinho e dá pulos de alegria pela rua.

Enquanto isso, no salão de festas do condomínio... A assessora do Senador joga conversa fora com Bebel, enquanto se certifica de que ela não tem microfones, câmeras ou coisas que possam produzir provas contra o político.

ASSESSORA: Nos últimos dias voltaram a circular boatos envolvendo o seu nome e o do Senador. Isso é muito prejudicial pra imagem dele e pode colocar em risco o futuro político do Senador, logo agora que uma eleição se aproxima e ele tem planos ambiciosos.
BEBEL: Querida, mas eu não tenho culpa se o Senador gosta da fruta de caroço. Eu não tive culpa nenhuma do que aconteceu. Quem vacilou foi ele. O que você quer que eu faça, desapareça do mapa?
ASSESSORA: Exatamente isso, mas não do jeito que você tá pensando. Eu vim aqui te fazer uma proposta, que, aliás, é muito interessante para ambas as partes.
BEBEL: E que proposta seria essa?
ASSESSORA: A gente te dá uma boa grana pra você ir morar bem longe daqui. Ou voltar pro Pará, ou São Paulo, ou Rio de Janeiro... Onde você quiser. Desde que seja bem longe daqui.
BEBEL: E quanto seria essa boa grana?

A assessora fala em seu ouvido. Bebel fica admirada.

BEBEL: E isso daí que você falou, daria... Tipo pra fazer uma viagem pra Europa?
ASSESSORA: Tranquilamente. Por quê? Você tem vontade de morar na Europa?
BEBEL: Tenho, problema é que a viagem é cara né? E as coisas lá também...
ASSESSORA: Europa? Melhor ainda. Pra mim quanto mais longe, melhor. Então vamos fazer assim: eu te ajudo a preparar toda a papelada e você vai passar uma temporada lá, contando que não me apareça aqui no Brasil antes da eleição. Fechado?
BEBEL: Fechado. E como vai ser isso? Eu sei que viajar pra fora do Brasil não é simples, é cheio de complicação.
ASSESSORA: Pode ficar tranquila. Você vai entrar em contato com uma pessoa que eu vou te dar o telefone e ela vai providenciar tudo pra você.
BEBEL: Entendi. Mas isso não é nenhuma presepada não né? Porque se for, eu boto a boca no trombone e detono com esse Senador de vez. Travesti não é bagunça não, meu bem!
ASSESSORA: Não tem presepada nenhuma. A gente só tá fazendo uma negócio que vai ser bom pras duas partes. Só isso. Pode confiar. Mas olha, boca fechada. Tudo no mais absoluto sigilo. Entendeu?
BEBEL: Entendi.

Tão logo a assessora lhe entrega o número de telefone da pessoa e se despede, Bebel corre para dar a notícia à Lorraine.

Na sede do Brasiliense Futebol Clube, Betina chega ao pequeno auditório e se senta na última fila. Ela assiste à entrevista coletiva de Ramon, agora mais forte, mais sarado e com ares de estrela.

Depois de falar por alguns minutos, o atleta veste a camisa do novo clube, sob uma saraivada de flashes e aplausos de alguns torcedores empolgados.

Assim que a coletiva termina, os repórteres, fotógrafos e torcedores se retiram. Ramon ainda conversa com um dirigente do Clube.

DIRIGENTE: Parece que tem uma fã ali que quer um autógrafo...
RAMON: Vou lá.

Ramon se aproxima de Betina e nota que aquele rosto tem algo que lhe é familiar.

RAMON: Oi. Tudo bem?

Betina sorri, mas não diz nada, fazendo mistério para ver se o amado se lembra dela.

RAMON: Engraçado, seu rosto não me é estranho. Eu tenho a sensação que te conheço de algum lugar...
BETINA: Sim nos conhecemos há muito tempo. Com essa roupa, com esse corte de cabelo, talvez você não se lembre mesmo. Muita coisa mudou de lá pra cá. Nos conhecemos quando você ainda morava no Recife, nós estudamos juntos...

Ramon observa atentamente seu rosto, faz força, mas não consegue se lembrar.

BETINA: Você não lembra de um amigo de classe, que todo mundo no colégio insistia em chamar de... Bernadete?
RAMON: Bernardo?! Cara! Como você tá diferente! (e se abraçam efusivamente)
BETINA: Bernardo não... Agora eu me chamo Betina.
RAMON: Claro! Como iria me esquecer? Mas também, você tá muito diferente. Eu vi que seu rosto não era estranho, mas eu não ia lembrar nunca... (para um instante) Então você se assumiu mesmo... Virou travesti...
BETINA: Travesti não, transexual. São duas coisas bem diferentes. Mas depois eu te explico com calma.
RAMON: Cara, você não imagina a felicidade que eu fico de te ver aqui. Você foi muito importante na minha carreira. Se não fosse por você eu nunca teria chegado até aqui e nem teria vivido esse momento maravilhoso que eu tô vivendo hoje, na minha vida, na minha carreira... Eu nem sei como te agradecer...
BETINA: Imagina, não tem de me agradecer nada...
RAMON: Faz o seguinte: me dá dez minutinhos. Eu vou tomar um banho e a gente sai pra almoçar juntos. A gente tem muito que conversar. Eu tenho muita coisa pra te contar e quero que você me conte direitinho essa história de Bernardo virar Betina. Dez minutinhos só.

Betina não se contém de felicidade. Aqueles são os dez minutos mais longos de sua vida...

Mais tarde, no restaurante, os dois conversam longamente e relatam as trajetórias que suas vidas seguiram desde a última vez que se viram. Depois que Betina explica em detalhes a questão de sua transexualidade, Ramon se sente mais confiante para fazer uma revelação.

RAMON: Sabe... Uma das muitas coisas que aconteceram nesse período, e que você não sabe, é que eu experimentei o sexo com outro homem, quer dizer, com uma travesti. Eu nunca contei isso pra ninguém, mas não sei por que, eu confio em você, eu me sinto seguro pra te contar essas coisas...
BETINA: É mesmo?
RAMON: E olha, eu gostei muito. Agora eu não tenho mais esse tipo de preconceito. Pra dizer a verdade, queria fazer outras vezes... Você sabe, agora que sou um jogador em ascensão, isso é muito complicado, porque se uma coisa dessas vaza na mídia, eu tô arruinado. Tem muito jogador de futebol aí que faz, até jogador da Seleção, mas sabe como é, os caras já são consagrados. Agora, se acontece com o cara em começo de carreira como eu, já era!
BETINA: Eu sei como é.
RAMON: O que você acha da gente experimentar? Que eu me lembre você tinha uma quedinha por mim... Ainda tem?
BETINA: O que você acha? Na verdade eu nunca te esqueci, sempre te amei...

Os dois sorriem cúmplices. Depois seguem para o motel, se amam e fazem sexo a tarde toda.

ALGUNS DIAS DEPOIS...

Gilberto está apreensivo, pois bate à porta o advogado de Hoffmann. Depois dos cumprimentos, já sentados, Gilberto rompe o silêncio.

GILBERTO: Bom doutor, eu já imagino o que o senhor veio fazer aqui. Eu quero lhe dizer que eu vou desocupar o apartamento o mais breve possível. Essa semana mesmo eu tiro as minhas coisas daqui. O quartinho do porteiro já tá desocupado e eu volto pra lá.
ADVOGADO: Isso não será necessário meu rapaz, a menos que você realmente queira.
GILBERTO: Como assim? Eu não tô entendendo...
ADVOGADO: Você tá vendo isso aqui? (e tira os papéis da pasta) Isso aqui é o testamento do doutor Hoffmann. Aqui tá escrito que você é o herdeiro desse apartamento.
GILBERTO: Eu? Herdeiro? Como assim?
ADVOGADO: É isso mesmo. Você é o herdeiro do apartamento. Agora ele é todo seu. Não só do apartamento, como também da caminhonete, do sítio de Pirenópolis e também de uma boa quantia que ele tinha guardado na poupança.
GILBERTO: Eu não acredito! O Hoffmann era realmente uma pessoa incrível! Que alma boa meu Deus! Pena que tenha ido embora tão cedo...
ADVOGADO: Pois é, seu Hoffmann realmente era um grande homem, muito generoso com todos. E sozinho também né? Como você sabe, ele não tinha parentes. A irmã é rica e não precisa do dinheiro dele. Então ele deixou esse testamento manifestando o seu desejo de doar todos os seus bens para a pessoa que o acompanhasse nos seus últimos dias de vida. No caso, você.
GILBERTO: Puxa! Eu nem sei o que dizer! Só posso agradecer ao senhor e ao Hoffmann. Que Deus o tenha em bom lugar.

Assim, depois de tantas idas e vindas, encontros e desencontros, a vida de cada um dos nossos personagens seguiu um rumo diferente:



Joana rompeu com a família e foi morar com Célia. Inconformado, Tatão vendeu sua microempresa e voltou com a família para Blumenau, onde já moravam seus filhos mais velhos Cleiton e Diogo, agora casados. Diferentes dos pais, que nunca aceitaram plenamente a homossexualidade da filha, Renata e Beatriz aceitaram a orientação sexual da irmã e de vez quando telefonam e a visitam.

Por influência de Célia, Joana desistiu do curso Técnico em Edificações, seu sonho de infância, e agora se prepara em um cursinho para um desafio maior: o vestibular para Engenharia Civil.

As duas vivem bem, apesar de Joana ser muito ciumenta, tanto que assinaram um contrato de união estável e adotaram duas crianças de dois anos de idade: Quinzinho e Mariana.



Bebel, com uma ajudinha do destino, conseguiu sua sonhada temporada na Itália. Ela ficou lá durante dois anos, realizou o sonho de colocar suas próteses de silicone e teve muitos amantes. O problema foi que com a crise financeira mundial, as coisas lá não estavam tão boas quanto imaginava e ela acabou tendo de voltar ao Brasil.

Nessa volta, ainda com boa parte do dinheiro que recebeu do Senador, Bebel comprou um apartamento em Belém e montou um centro de estética, onde as principais clientes são jovens e adolescentes travestis em começo de carreira. Bebel contratou a amiga Xantara, que é a gerente do estabelecimento e, sempre que pode, dá uma esnobada em Cicciolina, sua eterna rival.

Seu relacionamento com a família é esporádico. Ronaldo nunca aceitou o fato de ter um filho travesti, mas Bebel sempre ajuda a mãe, Helena, e investe no estudo dos irmãos Lindomar e Rosa, que ainda quer ver formados na faculdade. Ela também fez questão de trazer da Itália um notebook de última geração para o irmão Romeu, para compensar aquele que furtara quando fugiu de casa.



Betina continuou o seu tratamento psicológico preparatório para a cirurgia de mudança de sexo, com total apoio de Juarez, Lourdes e dos irmãos Gerson, Airton e Simone. Algum tempo depois, realizou o procedimento com sucesso.

Seu relacionamento com Ramon é pleno e feliz. A única restrição é que eles precisam ser discretos e não podem assumir publicamente a relação. Nas férias do jogador, viajaram para uma temporada no Recife, para visitar a amiga Pâmela, por quem Betina tem grande consideração.

Alguns anos depois, Betina se formou em psicologia e fundou uma ONG especializada em prevenção, direitos humanos e combate à homofobia.



Gilberto resolveu voltar às suas origens. Castigado pela saudade que sentia da família, vendeu os bens que herdou de Hoffmann e retornou à Minas Gerais.

Sua orientação sexual continua sendo assunto proibido. Mas Avenor, Catarina e seus seis irmãos o recebe com carinho e orgulho. A família o respeita e lhe é muito grata. Hoje todos moram e trabalham num pedaço de terra adquirido por ele nas redondezas de Joanésia.

Gilberto vive e trabalha em Belo Horizonte. Ele comprou um apartamento e está prestes a se formar em Agronomia. Nos finais de semana, quando pode, pega a caminhonete e vai para o interior. Chegando na cidade, sempre dá uma passada na casa de Boneca, para lhe contar as novidades da sua agitada vida amorosa.

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Assim, independente da orientação sexual ou da identidade de gênero de cada um, a vida continua. Com todos os seus encantos, mistérios, encontros e desencontros. A sexualidade é uma das maiores dádivas do ser humano e nunca deveria ser usada para rotular ou classificar as pessoas. Porque ela está intrinsecamente ligada ao maior bem que uma pessoa pode ter: a liberdade de amar, ser amado, ser feliz!




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Você sabia?

Violência contra pessoas LGBT

Muitas pessoas homossexuais escondem seus sentimentos e atividades por medo de reprovação ou de violência por parte da sociedade. A expressão mais comum usada para pessoas nesta situação é "no armário". Já quando pessoas homossexuais ou bissexuais resolvem divulgar sua orientação sexual para seus amigos e familiares, a expressão mais comum é "sair do armário".

Os esforços para a emancipação da homossexualidade, como ela é compreendida atualmente, começaram na década de 1860, porém desde meados da década de 1950 tem havido uma tendência de aceleração no sentido de uma maior visibilidade, aceitação e criação de direitos civis para os gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros. No entanto, o heterossexismo e a homofobia ainda persistem na sociedade, o que torna difícil para as pessoas, e principalmente para os jovens homossexuais, se sociabilizarem com os outros, podendo resultar, em alguns casos, até no suicídio.

No Brasil, em 2009, de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), 198 pessoas foram mortas por motivos homofóbicos. Infelizmente, em 2011, esse número saltou para cerca de 300 vítimas, indicando que, mesmo com a presença maciça de pessoas LGBT na mídia e nos diversos setores da sociedade, a homofobia continua crescendo e fazendo novas vítimas. Isso faz com que se torne urgente que as autoridades brasileiras aprovem leis que protejam esse segmento tão vulnerável da nossa sociedade.

E cada um de nós pode dar a sua contribuição para que seja aprovada essa LEI:

Participe da Campanha para apresentar o Estatuto da Diversidade Sexual por iniciativa popular.

Para isso é necessário colher "só" 1 milhão e 400 mil assinaturas para apresentar o projeto no Congresso Nacional.

Assine online a petição pública: http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=EDS

Curta e compartilhe no Facebook: http://www.facebook.com/estatutodiversidade

Também imprima os formulários e saia em busca de mais assinaturas.

29 de jun. de 2012

GLS TEEN - CAP. 197



No capítulo anterior...
- Joana descobre que seu pai foi ao apartamento de Célia. Ela tenta avisar, mas não consegue
- Tatão desiste de matar Célia, cai em desespero e começa a chorar. Depois volta pra casa
- Joana pede ajuda a Lorraine para que ela aconselhe seus pais a procurarem ajuda
- Lorraine aconselha Bebel a sumir por um tempo até a mídia esquecer o escândalo do Senador
- Algumas semanas se passam
- Gilberto conta a Joel que o relacionamento com Hoffmann está engrenando
- Lourdes e Juarez contam sua experiência na reunião do Grupo de Apoio a Pais de Homossexuais
- Depois de um dia quente e estressante, Hoffman sofre um AVC. Gilberto se desespera

CAP. 197

Gilberto corre à portaria e liga para uma ambulância do SAMU. Desorientado, corre de volta à garagem para tentar reanimar Hoffmann, sem sucesso.

Longos minutos se passam até à chegada da ambulância. O socorrista não lhe dá muitas esperanças, enquanto presta os primeiros socorros à vítima.

SOCORRISTA: O caso dele é grave. Precisamos removê-lo para o hospital o mais rápido possível.
GILBERTO: Ele vai ficar bem seu enfermeiro? Ele vai se recuperar?
SOCORRISTA: Só o médico poderá lhe dizer isso, meu rapaz. Vamos! Rápido!

A sirene de ambulância rasga a avenida W3 Sul em direção ao hospital. O problema é que em pleno horário de almoço os congestionamentos são inevitáveis. Alguns carros saem da frente, outras vezes o motorista da ambulância corta por cima das calçadas, dos canteiros. Mas apesar de todo esforço, a caminhada é longa. Os minutos parecem horas. O hospital de destino fica na Asa Norte, a alguns quilômetros do apartamento.

Com muita dificuldade, a ambulância finalmente chega ao hospital e os médicos prestam os primeiros socorros a Hoffmann.

Na manhã seguinte, no CTI, Gilberto recebe autorização para visitar o namorado. Ele fala com dificuldade, porque ficou com um lado do corpo paralisado.

GILBERTO: Como você está meu querido?
HOFFMANN: Eu tô bem. Não fosse você eu não tinha escapado dessa.
GILBERTO: Que isso? Eu não fiz mais que minha obrigação. Você ainda vai viver muito meu bem. Ainda vamos aproveitar muito a vida juntos.
HOFFMANN: Você é um menino de ouro. Obrigado.

Hoffmann esboça um sorriso e uma lágrima escorre no canto do seu olho.

Nisso o médico entra.

MÉDICO: Melhor deixar o paciente descansar. Ele não pode fazer esforço.
GILBERTO: Sim senhor. Eu já tô de saída. (para Hoffmann) Fique bem meu querido. Eu tô aqui do lado de fora, esperando a sua recuperação.

Gilberto e o médico conversam no corredor.

MÉDICO: Ele teve um AVE, acidente vascular encefálico. É o que as pessoas chamam de derrame cerebral. Estouraram algumas veias no cérebro. As próximas horas serão decisivas. Ele pode se recuperar, mas é bem provável que fique com sequelas. O derrame pode paralisar um lado do corpo, mas só com o passar das horas é que teremos um diagnóstico mais preciso.
GILBERTO: Ele tem plano de saúde. Faça o que preciso para que ele se recupere, doutor. Por favor.
MÉDICO: Eu sei. Já entramos em contato com o médico dele. O Dr. Veras tá vindo pra cá pra acompanhar o caso dele.

Mais tarde, a família almoça reunida.

JUAREZ: Hoje sou eu que quero aproveitar a família reunida pra dizer algumas palavras antes de almoçarmos.
AIRTON: Ih! Lá vem bomba! As refeições nessa casa se tornaram um “salve-se quem puder!”
LOURDES: Deixa o seu pai falar, menino! Mania feia de interromper os mais velhos.
JUAREZ: Eu quero falar mais especificamente pra Betina, a nossa filha.

Betina se admira ao ver o pai chamando-a dessa forma, assim como seus irmãos.

SIMONE: Betina? Até o senhor papai?
JUAREZ: Não é fácil pra mim dizer isso, mas hoje eu quero dizer pra todos vocês que eu aceito o Bernardo, ou melhor dizendo, a Betina, do jeito que ela é. E se ela se sente como mulher, se ela resolveu virar mulher, se ela é feliz como mulher, nem eu nem sua mãe vamos mais contestar isso. Que ela seja muito feliz do jeito que ela é, do jeito que ela achar melhor.

Betina chora.

LOURDES: Eu tinha muito medo pelo futuro do meu filho. Tinha muito medo da reação das pessoas. Elas são maldosas, julgam, atiram pedras... Eu não queria que nenhum dos meus filhos sofresse. No começo eu tinha uma sensação de culpa, de fracasso. Sentia que não tinha dado a educação adequada, que não tinha sido uma boa mãe. Mas hoje eu compreendo que não é nada disso. As pessoas que são diferentes, são diferentes e pronto! E precisam ser amadas como elas são. Apesar de ter errado muito no começo, hoje eu tô aqui pra te apoiar. Pode contar comigo para o que for preciso... Minha filha.

Lourdes vai até Betina e a abraça. As duas choram compulsivamente.

JUAREZ: Eu só espero que você seja uma “moça” honesta, descente, de princípios, assim como todos os meus filhos foram criados nessa família. Eu sei que nós vamos enfrentar muitas dificuldades, muitas barreiras, muito preconceito. Mas eu e sua mãe estamos aqui pra te apoiar. (e para os outros filhos) E eu não quero saber de ninguém censurando a Betina. A partir de hoje ela é uma moça. E é como se ela tivesse nascido assim e crescido assim. Estamos entendidos?

Os irmãos balançam a cabeça afirmativamente, ainda que surpresos com a atitude do pai.

Todos choram, emocionados. Cada um vai até Betina, beija e a abraça com carinho.

Num outro andar do prédio...

O clima fica cada vez mais tenso. Tatão e Vanilda não aceitam o relacionamento lésbico da filha. Eles tentam se impor pela força, mas Joana não aceita.

TATÃO: Aonde você vai menina?
JOANA: Eu tô indo ao colégio fazer um trabalho.
TATÃO: Mentira! Você tá indo encontrar aquela sujeita!
JOANA: E se tiver pai? Qual o problema? Eu sou maior de idade.
TATÃO: Você é maior de idade, mas eu ainda sou o chefe dessa família. Sou eu quem paga as contas aqui. E enquanto você tiver morando debaixo do meu teto, vai ter de seguir as minhas ordens.
JOANA: Tá bom pai. Se o problema é esse, eu saio dessa casa. Agora eu tenho pra onde ir. (vira as costas e sai)
VANILDA: Volta aqui menina! Não é assim que se resolvem as coisas...
TATÃO: Eu ainda perco a cabeça com essa menina!

Durante a noite, ao fazer ponto na avenida, Bebel percebe a presença do carro do Senador. Seu assessor estaciona, desce do carro e circula de um lado para outro, como se procurasse alguém. Ela se esconde.

BEBEL (para si mesma): Que droga! Esse cara não vai esquecer de mim não? Eu passei semanas viajando e o cara ainda tá na minha cola?! Eu tô ferrada!

Horas mais tarde, Gilberto percebe uma movimentação intensa de médicos no CTI do hospital. Ele tenta se informar, mas ninguém lhe diz nada. Gilberto fica muito apreensivo. O estado de Hoffmann se agrava.

Na madrugada seguinte, o médico desperta Gilberto, que dorme sentado num corredor do hospital.

MÉDICO: Seu Gilberto, infelizmente a notícia não é boa. Seu Hoffmann não resistiu. Ele acabou de falecer. A gente fez tudo que era possível, mas não deu pra salvá-lo. Ele tinha seguro-funeral, o senhor pode ficar tranquilo que vamos tomar todas as providências. Só pedimos ao senhor que, por gentileza, avise a família.
GILBERTO: Ele tem apenas uma irmã que mora na Europa e alguns poucos parentes distantes no Rio Grande do Sul. Acho que é avisar só por formalidade mesmo, porque pro velório ninguém terá condições de vir, não haverá tempo pra isso...
MÉDICO: Bom, o senhor faça como achar melhor. Meus sentimentos. (e sai)

Gilberto chora.

O sepultamento acontece e a maioria dos presentes é justamente os moradores do condomínio. Juarez, Tatão e suas famílias, o síndico, Lorraine e Joel prestam sua solidariedade a Gilberto, que é porteiro no prédio e é muito querido por todos.

Gilberto acompanha Hoffmann até o derradeiro instante, jogando uma rosa vermelha sobre o caixão.

Alguns dias depois, Gilberto é chamado para uma visita ao consultório do Dr. Veras, o médico particular de Hoffmann. Ele não entende o motivo da tal visita, mas vai até lá.

VERAS: Seu Gilberto, eu percebi que o senhor acompanhou o seu Hoffmann durante os seus últimos meses de vida. Percebi que o senhor tinha uma dedicação, um carinho muito grande por ele. E descobri também que o senhor não era parente dele. Vocês eram parceiros sexuais, não é isso?
GILBERTO: Sim, a gente tinha um relacionamento.
VERAS: Vocês faziam sexo seguro, se preveniam direitinho? Ele te contou alguma coisa?
GILBERTO: Sim, geralmente a gente fazia sexo seguro, mas, porque o senhor tá me perguntando isso?
VERAS: Não se assuste com o que eu vou lhe dizer, mas o seu Hoffmann era soropositivo, ele tinha o vírus HIV.

Gilberto fica pálido de tanto susto.

VERAS: Se vocês faziam sexo seguro, não há com que se preocupar. Mas, de qualquer forma, é preciso que você faça um teste de HIV pra saber se está tudo bem com você.

Apesar da orientação do médico, Gilberto fica em pânico. Os dias seguintes são de muita apreensão e sofrimento. Ele vai ao laboratório e colhe o sangue para o exame.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS...

Joana tem mais uma discussão com os pais.

JOANA: Eu vou morar com a Célia sim! E se vocês querem saber, ela tá lá embaixo na portaria me esperando pra gente sair. Eu tô de saco cheio de tanta pegação no meu pé! E se o problema é morar nessa casa, não vai ter problema mais. Eu vou lá embaixo conversar com ela e se for preciso vou embora dessa casa hoje mesmo! Fui! (bate a porta e sai apressada)

Betina troca de roupa e a TV está ligada, “falando sozinha”. De repente ouve uma matéria que desperta a sua atenção. Ela para pra assistir.

JORNALISTA: E o Brasiliense acaba de contratar o atacante Ramon, vindo de Pernambuco. Descoberto num time da segunda divisão de Caruaru, o atacante se destacou no Sport Recife e foi o grande responsável pela conquista do campeonato pernambucano. Agora, contratado pelo Brasiliense, o artilheiro é a grande esperança de gols do time amarelinho. A apresentação do jogador à imprensa acontece hoje às duas da tarde no centro de treinamento Rei Pelé.

BETINA: Meu Deus! É o Ramon! Ele conseguiu! Eu não vou perder essa apresentação por nada! Tô indo pra lá agora! (e sai correndo)

Bebel está na varanda lixando as unhas quando o interfone toca.

PORTEIRO (do outro lado da linha): Tem uma senhora querendo falar com a dona Bebel. Mulher grã-fina, bem vestida. Disse que não pode esperar muito.
BEBEL: Tudo bem. Eu tô descendo (e sai)

Gilberto ainda mora no apartamento de Hoffmann. Ele está na cozinha, vestido, pronto para sair, quando o telefone toca. Ele atende, ouve uma instrução e desliga.

GILBERTO: Ai meu Deus! É hoje que acaba essa agonia! Saiu o resultado do meu exame. Eu vou lá agora, não quero esperar mais nem um minuto! Não aguento mais essa tortura! Seja o que Deus quiser! (e sai apressado)

Lorraine vem entrando no hall do elevador com suas sacolas de compras, cumprimenta o porteiro e vai passando toda distraída. Quando a porta do elevador se abre, Gilberto, Betina, Joana e Bebel saem todos apressados. O choque é inevitável. As compras, as frutas e as coisas se espalham todas pelo chão.

LORRAINE: Mas será possível! De novo? Eu já não disse que a Parada Gay é só no mês que vem?!

Por um instante todos congelam.

Continua amanhã... No último capítulo


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Você sabia?

Nas artes visuais, destacam-se a arte da Grécia antiga, onde vemos uma preferência pelo corpo masculino nu, os renascentistas Leonardo da Vinci e Michelangelo, e artistas do Maneirismo e Barroco dos séculos 16 e 17, como Agnolo Bronzino, Carlo Saraceni e Caravaggio, cujas obras foram severamente criticadas pela Igreja Católica, além do século XIX pintores como Thomas Eakins, Eugène Jansson, Henry Scott Tuke, Aubrey Beardsley e Magnus Enckell terem retomado histórias homoeróticas da mitologia grega como a de Narciso, Jacinto, Ganímedes e outros. Na modernidade, artistas como Paul Cadmus e Gilbert & George, além de fotógrafos como Wilhelm von Gloeden, David Hockney, Will McBride, Robert Mapplethorpe, Pierre et Gilles, Bernard Faucon e Anthony Goicolea, também contribuíram muito para a arte homoerótica.