29 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 93



No capítulo anterior...
- Pâmela aceita que Bernardo durma em sua casa, desde que ligue avisando aos pais
- Joana insiste com Ricardo, mas ele perde a paciência e lhe manda embora
- Joaquim e Carlete conversam em uma das muitas paradas ruma a São Paulo
- Gilberto e Adriano conversam no sofá. Dadinho chega de viagem e não gosta do que vê

CAP. 93

DADINHO: Ah, já sei... Essa deve ser a Adriana, a bicha merendeira?
ADRIANO: Merendeira não, querida, secretária do lar. E a senhora, o que é, faxineira?
DADINHO: Me respeita, viado! Então você vem na minha casa, sem ser convidada para me insultar?
ADRIANO: Primeiro, quem chegou insultando foi a senhora. Segundo: eu fui convidada sim, pelo bofe aqui ao meu lado. (para Gilberto) E você bofe? Não vai se manifestar? Vai deixar a outra pagar sapo pra mim?
GILBERTO: É verdade, Dadinho, fui eu quem convidei ele pra vir aqui. Agora nós dividimos aluguel, esqueceu? Eu também posso convidar as pessoas pra me visitar aqui.
DADINHO: Acho que você tá enganado, querido, essa casa é minha. Eu sou o dono. Você é simplesmente um agregado.
GILBERTO: Eu não acho correto discutir isso na frente da visita, mas acho que desde o momento em que as pessoas racham as despesas, ambas têm os mesmos direitos.
DADINHO: Então tá fácil, né, meu bem? Pega a casa da bicha montadinha, decoradinha e agora vira dono também?
GILBERTO: A casa tava montadinha, mas você não tava dando conta de pagar as despesas. Aliás, foi por isso que me chamou para dividir não foi?
ADRIANO: Queridas, eu não sou lavadeira, não tenho nada a ver com a lavação de roupa suja de vocês. Com licença que eu vou-me embora. Bye Bye!
GILBERTO: Pera aí, não vai não, tá cedo...
ADRIANO: Cedo foi a hora a que eu cheguei aqui. Amanhã a gente se fala. Beijo, me liga!

Adriano se retira sob o olhar admirado do amigo.

GILBERTO: Viu o que você fez? Eu não sei qual foi a sua criação, mas na minha casa não costumamos desfeitear nem um cachorro.
DADINHO: Eu acho é pouco! Se essa bichinha pão com ovo acha que ela vai montar acampamento aqui na minha casa, e ainda garantir o meu bofe, ela tá muito enganada! Ela que vá cantar em outra freguesia!
GILBERTO: Seu bofe? Que papo é esse? É impressão minha ou você tá com ciúmes de mim?
DADINHO: Estou sim, agora que você percebeu? Eu tô cansado de ficar insisitindo com você, rastejando aos seus pés. Pra mim nada! Pra essa daí você faz pipoquinha, assiste filminho e tudo isso no sofá da minha casa? Ah! Tenha paciência!
GILBERTO: Você tá confundindo as coisas. Quando eu vim pra cá eu deixei bem claro que a gente seria só amigo. Eu falei com todas as letras, te perguntei e você concordou. Agora tá mudando o discurso?
DADINHO: Pois é, eu achei que ia conseguir dar a volta por cima, esquecer, mas não deu. A verdade é que sempre fui muito afim de você. Depois rolou uma vez, duas, três... Eu pernsei que a gente pudesse ter alguma coisa séria.
GILBERTO: Mas eu te perguntei, insisti, falei que só vinha se fosse só como amigo e você concordou...
DADINHO: Concordei, caramba! Mas a gente não manda no coração! Eu achei que você morando aqui seria mais fácil pra te conquistar, foi isso. Mas pelo visto parece que não deu certo...
GILBERTO: Não, não deu mesmo... E te digo mais: depois de tudo que rolou aqui nessa sala hoje, eu te digo que pra mim não dá mais. Eu vou arrumar as minhas coisas e vou me mandar. É só o tempo de arrumar um novo rumo pra minha vida.
DADINHO: Que isso? Não precisa apelar assim... Só por uma bobagem dessas?
GILBERTO: Não é uma bobagem. Você destratou o meu amigo, humilhou o coitado. E mais: jogou na minha cara que a casa é sua, que eu não tenho direitos aqui. Você está agindo como se fosse o meu dono, como se eu fosse sua propriedade e isso eu não sou! Na boa: amanhã mesmo vou procurar outro canto pra mim.
DADINHO: Que isso Gilberto? Ficou maluco?
GILBERTO: Não. Estou absolutamente seguro do que eu tô falando.
DADINHO: Você não tem pra onde ir. Você não dá conta de pagar aquele hotel. Aliás, se me lembro bem, foi por isso que você saiu de lá: falta de din din! Tô pagando pra ver essa coragem toda que você diz ter. Não tente bancar o gostoso, carinha, você é um pobre coitado, sem eira nem beira, que foi enxotado de casa como um cão pesteado! Agora que vir dar uma de gostoso pra cima de mim? Eu sim, sou uma bicha bonita, que tenho a minha casa, montada com o meu trabalho, como o meu sacrifício. Se enxerga bofe de araque!

Gilberto apenas o observa imóvel.

Continua amanhã...


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Você sabia?

Indivíduos transgêneros podem ser atraídos por homens, mulheres ou ambos, embora a prevalência de diferentes orientações sexuais é bastante diferente nas duas populações. Um indivíduo homossexual, heterossexual ou bissexual pode ser masculino, feminino ou andrógino, e, além disso, muitos membros e simpatizantes das comunidades gays e lésbicas veem agora o "sexo-conformes heterossexual" e "género não conformes homossexual" como os estereótipos negativos. 

28 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 92



No capítulo anterior...
- Bernardo caminha pela praia e encontra Ramon, que também teve problemas com a mãe
- Bernardo conta a Ramon tudo que houve na sua casa e revela seus temores
- Sozinho e triste, Gilberto liga para Boneca para saber notícias da sua família
- Bernardo chega à casa de Pâmela e pede para pernoitar ali

CAP. 92

PÂMELA: Bernardo, Bernardo... O que você andou aprontando? Entre, me conte tudo, desde o começo...

Bernardo entra, se acomoda no sofá e relata todo o acontecido. Depois de ouvir tudo atentamente, Pâmela dá sua resposta à pergunta do rapaz.

PÂMELA: Bernardo, querido, você pode dormir aqui, quanto a isso não tem o menor problema. Mas com uma condição: quero que você ligue lá na sua casa e avise. Imagino que seus pais devem estar loucos de preocupação com você. E além do mais, não quero ser acusada de nada depois. Pelo que pude perceber, eles não vão muito com a minha cara. Não quero complicar as coisas mais ainda... Você tá de acordo com isso?
BERNARDO: Sim, claro. Só não vou dizer que tô na sua casa, porque senão vou caçar mais confusão. Mas eu ligo sim.
PÂMELA: Então faça isso. Nesse meio tempo vou arrumar a cama pra você.
BERNARDO: Obrigado. Você é mesmo uma grande amiga. Não sei nem como lhe agradecer.
PÂMELA: Não precisa agradecer. A gente faz o que pode. Quem sabe um dia você não tenha a oportunidade de retribuir fazendo a mesma coisa por outra pessoa? A vida dá tantas voltas...
BERNARDO: Você é tão sábia... Eu te admiro tanto por isso...
PÂMELA: Sábia não, querido, sou vivida. Você não faz ideia do que já passei nessa minha vida... Vamos, ligue logo lá, já é tarde e precisamos dormir. (e beija sua testa)

Bernardo pega o telefone e disca.

O dia 25 amanhece preguiçoso. Ruas vazias, pouco movimento.

Depois do almoço, Joana vai até a casa do vizinho.

RICARDO: Ah não... Você de novo? O que foi que eu fiz pra você cismar com a minha cara, garota?
JOANA: Calma. Que agressividade é essa? A noite foi tão mal dormida assim?
RICARDO: Olha, na boa, não me leve a mal, mas é que não quero problema pra minha cabeça. Você sabe, eu sou casado, você tem o seu namoradinho. Não fica nada bem a gente ficar tirando onda de amiguinho de escola...
JOANA: Não vai nem me convidar pra entrar pra gente conversar melhor?
RICARDO: Na boa? Não vou não. E agora, se você me dá licença, eu tenho umas coisas pra fazer ali. Até mais. (e fecha a porta)
JOANA: Grosso! Se ele pensa que vou desistir fácil assim, ele tá muito enganado!

Na estrada rumo a São Paulo, o ônibus faz mais uma parada.

Joaquim e Carlete caminham até o banheiro.

JOAQUIM: Biba, o que a senhora acha da gente ir no banheiro feminino? Afinal de contas somos mulheres...
CARLETE: Tá louco, viado? Quer levar um coió?
JOAQUIM: Bobagem, só falei pra descontrair... Tá louca que vou deixar de ver os bofes pra ver amapoas? Só se eu tivesse louca! (risos)
CARLETE: Eu nem me atreveria...
JOAQUIM: Mona, falando sério: tô um bagaço de cansada. Que lugar longe dos infernos!
CARLETE: A senhora nunca tinha saído de Belém, amiga?
JOAQUIM: Pior que não. A bicha é do oco do pau...
CARLETE: Então se prepara, mulher, porque tem muito chão ainda... Não chegamos nem à metade do caminho...
JOAQUIM: Nossa Senhora das Bichas que me dê forças! Um dia ainda vou ser rica, pra viajar só de avião...
CARLETE: Vai sonhando, viado, não custa nada mesmo...

Os dois entram no banheiro.

No final da tarde, antes do anoitecer, Dadinho volta de viagem. Para sua surpresa, Gilberto e Adriano estão na sala comendo pipoca e assistindo TV. Dadinho não gosta do que vê.

DADINHO: Quem é essa biba? O que ela tá fazendo aqui?

Gilberto e Adriano ficam constrangidos.

Continua amanhã...


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Você sabia?

No entanto, esse entendimento da homossexualidade como inversão sexual foi contestado no momento, e durante a segunda metade do século XX, a identidade sexual passou a ser cada vez mais visto como um fenômeno distinto de orientação sexual.

27 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 91



No capítulo anterior...
- Bernardo sai de casa transtornado e Juarez ordena que os irmãos o encontrem
- Bernardo caminha ao lado do mar, refletindo sobre a atitude que acabara de tomar
- Joana vai à casa de Ricardo, mas é surpreendida pela irmã
- Renata avisa que Sérgio está à sua espera. Joana não se conforma
- Bernardo encontra Ramon sentando à beira do mar

CAP. 91

RAMON: Eu que te pergunto: o que você tá fazendo aqui?
BERNARDO: O mesmo de sempre: fugindo dos problemas.
RAMON: Você também? Pensei que fosse somente eu...
BERNARDO: Engraçado, parece que a gente se especializou nisso: a gente sempre se encontra quando tem problemas em casa...
RAMON: Verdade... Hoje eu acabei discutindo com a minha mãe de novo. A mesma bobagem de sempre: é só falar em futebol, ela já vem com quatro pedras na mão. Não aceita minha escolha de jeito nenhum... Mas e você, qual foi o galho dessa vez?
BERNARDO: O meu também foi o de sempre, mas só que hoje a casa caiu...
RAMON: Caiu, como assim?
BERNARDO: Eu abri e jogo e falei tudo que tinha vontade. Falei que sou gay, que eu gosto é de homens, falei da Pâmela... Soltei os cachorros geral mesmo.
RAMON: E como foi a reação do pessoal?
BERNARDO: Foi um Deus-nos-acuda. Minha mãe e minha avó desmaiaram, meus irmãos me acusaram, meu pai me chamou a atenção... Foi um bafafá danado...
RAMON: Mesmo? Mas e como a situação se resolveu?
BERNARDO: Não resolveu. Eu perdi a paciência quando meus irmãos começaram a me acusar e saí de casa. Deixei todos lá plantados com o prato na mão.
RAMON: Foi antes da ceia?
BERNARDO: Foi na hora da revelação do amigo secreto. Eu pedi a palavra e rasguei o verbo.
RAMON: Cara, que louco! Você é muito doido! E agora, o que você acha que vai acontecer?
BERNARDO: Não sei. Agora tô até com medo de voltar pra casa. Não faço a menor ideia do que me espera lá...
RAMON: É, vai ser uma barra enfrentar essa situação...
BERNARDO: Mas por outro lado, eu tô sentindo um alívio enorme. É como se tivesse tirado um elefante das minhas costas. Eu não aguentava mais viver vigiado, pressionado, me escondendo... Agora sou livre pra fazer o que bem entender...
RAMON: É, olhando por esse lado, você tem razão...
BERNARDO: Agora não sei se volto pra casa, se peço pra dormir na casa da Pâmela... Estou com medo do que possa acontecer.
RAMON: Eu não queria estar na sua pele, meu amigo...

Em Ipatinga, logo depois de sair do bar, Gilberto vai até um orelhão e liga para o amigo de Joanésia.

GILBERTO: Você tem alguma notícia da minha mãe?
BONECA (na sala de sua casa): Que eu saiba tá tudo bem. Depois da internação ela melhorou e não teve mais problemas. Pelo menos ninguém comentou nada lá na lavoura, nem seu pai, nem seus irmãos.
GILBERTO: Bom, pelo menos uma notícia boa. Se você puder, dá uma passada lá e diga pra ela que eu liguei.
BONECA: Pode deixar, eu dou o seu recado.
GILBERTO: E aproveito também pra te desejar um Feliz Natal. Você tem sido um grande amigo. Obrigado mesmo.
BONECA: Por nada. Você também é um cara muito legal. Feliz Natal pra você também. (e desliga)

Sem opções, Gilberto volta pra casa. Passeia pelos canais da TV, mas não encontra nada que lhe interesse. Desanimado, arruma a cama e deita.

Depois de um longo papo com Ramon, Bernardo resolve seguir para o apartamento de Pâmela. Já de camisola, ela se assusta com a visita.

PÂMELA: Bernardo, você aqui a essa hora? O que houve?
BERNARDO: Desculpe vir sem avisar, nem celular eu trouxe...
PÂMELA: Sim, mas me diga: o que aconteceu de tão grave?
BERNARDO: Eu me desentendi com o pessoal lá em casa. Briga feia mesmo. Você poderia me deixar dormir aqui?

Pâmela fica sem ação.

Continua amanhã...


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Você sabia?

Identidade de gênero - Os primeiros autores que escreviam sobre homossexualidade geralmente entendiam que ela era intrinsecamente ligada ao próprio sexo do sujeito. Por exemplo, pensava-se que uma pessoa com um típico corpo feminino atraída por pessoas do mesmo sexo, teriam atributos masculinos, e vice-versa. Esse entendimento foi compartilhado pela maioria dos teóricos importantes da homossexualidade a partir de fins do século XIX até inícios do século XX, como Karl Heinrich Ulrichs, Richard von Krafft-Ebing, Magnus Hirschfeld, Havelock Ellis, Carl Jung e Sigmund Freud. 

25 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 90



No capítulo anterior...
- Bernardo revela a todos que é gay, deixando-os chocados
- Lourdes e dona Tita desmaiam com as revelações de Bernardo
- Os irmãos acusam Bernardo de estragar a noite de Natal. Ele se irrita e sai de casa

CAP. 90

JUAREZ: Tá vendo? Não tô dizendo pra vocês calarem a boca e pararem de acusar o Bernardo? Agora temos um problema a mais. Sabe Deus pra onde esse menino foi e sabe-se lá o que ele pode fazer. (para Airton) Vá atrás dele. Vamos! Rápido!
AIRTON: Eu, pai?
JUAREZ: É, você mesmo pamonha! Vá atrás dele! Agora!

Airton e Gerson saem.

Mais tarde, Bernardo caminha sozinho pela beira do mar. Ao som das ondas, tenta refletir sobre a atitude que acabara de tomar.

Em Blumenau, sempre que pode, Joana corre ao portão para se certificar do movimento na casa de Ricardo. E para sua surpresa as luzes estão acesas. Desconfiada, ela atravessa a rua. Bate à porta.

RICARDO: Boa Noite. Feliz Natal!
JOANA: Feliz Natal! Pensei que você tinha me dado o cano...
RICARDO: Saí pra dar uma volta, depois fui procurar um restaurante pra jantar. Justo nesse dia eu não ia mexer com panela aqui, não é mesmo?
JOANA: É, essa não é uma ideia das melhores... E aí, tem uma cervejinha aí pra gente começar o nosso papo?
RICARDO: Cervejinha é? Você não falou que tinha dado um tempo?
JOANA: Tinha, mas hoje é dia de festa. Não custa nada abrir uma exceção, não é? Mas, tem ou não tem?
RICARDO: Tem, claro. Vou ali pegar. Um instante. (e sai)

Nisso Renata adentra a sala.

JOANA: O que você tá fazendo aqui sua enxerida? Deu pra me vigiar agora?
RENATA: Devia é me agradecer por quebrar o seu galho...
JOANA: O que é? Fala logo! Se veio aqui pra me fazer desistir, pode tirar o seu cavalinho da chuva...
RENATA: O Sérgio acabou de chegar lá em casa e tá te querendo saber de você.
JOANA: Não acredito! Aquele mané tinha de aparecer aqui? Mas ele tinha falado que não vinha...
RENATA: Tá lá na sala de casa. Acho melhor você ir logo, antes que ele desconfie de alguma coisa.
JOANA: E o que você disse pra ele?
RENATA: Falei que você tinha ido na casa da vizinha e voltava logo, na casa da Marcela.

Ricardo chega com as cervejas.

JOANA: Ricardo, nossa cerveja vai ter de ficar pra depois. Desculpe, é que meu namorado acabou de chegar lá em casa. Depois eu te explico melhor. Até mais. Vamos Renata. (e saem)
RICARDO (para si mesmo): Isso é que dá se meter com criança... Ainda vou sair todo mijado dessa... (abre uma cerveja e começa a tomar)

Quando as duas saem da casa de Ricardo, Sérgio já está de pé no portão observando.

JOANA: Mudou de ideia? Você tinha falado que não vinha...

Nesse instante Ricardo chega ao portão, sem camisa e tomando sua cerveja.

SÉRGIO (desconfiado): Quem é aquele cara?
JOANA (apurada): Ah, é o marido da minha amiga...
SÉRGIO: Não sabia que você era amiga desse pessoal...
JOANA: Claro, você não mora aqui, como pode saber quem é e quem não é amigo de quem aqui? (puxando-o pelo braço) Vamos entrar, antes que meu pai comece a dar chilique.

Joana e Renata se olham desconfiadas.

A família se reúne à mesa e ceia tranquilamente, mas Joana passa o resto da festa contrariada.

Bernardo continua sua caminhada sem rumo pela beira do mar. Logo adiante avista uma pessoa sentada numa pedra contemplando as ondas, solitariamente. Ao chegar perto percebe que se trata de alguém conhecido.

BERNARDO: Ramon? O que você tá fazendo aqui?

Continua amanhã...


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Você sabia?

Geralmente, a "saída do armário" é descrita em três fases: a primeira, é a fase de "conhecer a si mesmo", em que a pessoa está aberta e decidida a vivenciar relações com pessoas do mesmo sexo (chamada de "saída/decisão interior"); a segunda envolve a decisão própria de se revelar para os outros, como para a família, amigos e/ou colegas, etc.; a terceira fase refere-se a realmente se envolver com uma pessoa do mesmo sexo e muitas vezes viver abertamente como uma pessoa LGBT.

24 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 89



No capítulo anterior...
- Joana se apronta toda, mas ao chegar ao portão percebe que Ricardo não está em casa
- Sozinho e entediado, Gilberto sai pela rua procurando algo para fazer
- Gilberto vai ao hotel e conversa com o recepcionista, que tenta animá-lo
- Em plena festa de Natal Bernardo revela à família que é gay

CAP. 89

Todos se olham incrédulos, em estado de choque, até que o pai rompe o silêncio.

JUAREZ (inconformado): Bernardo, que brincadeira é essa?! Isso não é ocasião pra brincadeira desse tipo, meu filho! Você tá passando dos limites!
BERNARDO: Não é brincadeira nenhuma, é muito sério. Eu tô falando o que tá entalado aqui na minha garganta há anos. E vou repetir pra todo mundo ouvir: eu sou gay! Eu não aguento mais viver nesse mundo de mentiras, me escondendo de tudo e de todos! Eu quero ser livre, eu quero fazer o que tenho vontade, sem ter de ficar inventando desculpas, sem ter de ficar com medo do que os outros vão falar, do que os outros vão pensar. Eu não aguento mais! Eu quero ser livre!
LOURDES: Que isso, filho? Você nunca foi assim, o que deu em você?
BERNARDO: Eu sempre fui assim, mãe. Vocês é que sempre fingiram que não notavam. Sempre varrendo as coisas pra debaixo do tapete. Quantas vezes a senhora me pegou vestido com os seus vestidos, calçado com as suas sandálias, usando o seu batom? Quantas vezes?
LOURDES: Mas isso era brincadeira de criança, filho, toda criança é assim mesmo...
BERNARDO: Mas eu não era assim, eu era diferente, mãe. Aliás, eu sou diferente. Olha o meu cabelo! Vocês já viram um rapaz de dezoito anos de cabelo comprido e ruivo? Eu aposto que não! Os rapazes de hoje são todos moicanos, carecas, skinheads!
AIRTON: Eu sempre falei: o Bê não pega ninguém, esse cara é muito estranho... Sempre achei que ele era meio aboiolado...
JUAREZ (para Airton): Cala boca, que isso não é hora pra piadinha. (para Bernardo) Olha, vamos parar com isso e vamos pra mesa comer em paz.
BERNARDO: Pera aí que eu ainda não acabei! Eu quero aproveitar que tomei coragem e quero falar tudo, não quero deixar nada pra trás.
D. TITA (admirada) E ainda tem mais?
BERNARDO: Tem mais sim, vó. (para todos) Eu quero dizer que aquele “traveco” que vocês viram me trazendo de carro aqui é a Pâmela, a minha amiga. Ela não é traveco, ela é transexual, ela operou e virou mulher. Ela é minha amiga e é uma pessoa te que tem me ajudado muito, viu seu Airton? E digo mais: eu vou continuar me encontrando com ela sim! Quer vocês queiram ou não.
LOURDES: Meu Deus! Eu não posso acreditar nisso! O meu filho envolvido com esse tipo de gente... Eu não vou aguentar... (e desmaia)
D. TITA: Era só o que me faltava! A essa altura da vida descobrir que eu tenho um neto baitola! Isso é demais pra mim (e desmaia também)
AIRTON (para Bernardo): Tá vendo o que você fez? Palhaço! Você estragou a nossa festa de Natal!

Confusão geral: uns correm para socorrer Lourdes, outros para socorrer dona Tita.

JUAREZ (para Simone): Traz um copo com água lá! Vamos! rápido! Um não, dois! (para Gerson) Busca o vidro de álcool lá no banheiro, vamos! (para Bernardo) Puxa, meu filho, você tinha que sair com essa justo na noite de Natal? Veja só que você fez...
BERNARDO: Tinha, pai, eu não aguentava mais tanta pressão em cima de mim. Tinha de falar ou então ia explodir...
JUAREZ: Eu não acredito nisso! Deve ser um pesadelo... O meu filho um homossexual? Não é possível! Onde foi que eu errei, meu Deus?

Nisso Simone chega com a água e Gerson com o álcool. D. Tita e Lourdes começam a voltar do desmaio.

SIMONE (para Bernardo): Viu o que você fez com a mãe e com a vó? Não respeita nem a Noite de Natal!
AIRTON: Poderia ter deixando pra assumir sua boiolice em outra data...
GERSON: Se uma delas morrer, a culpa é toda sua!
JUAREZ (interrompendo): Já chega! Calem a boca todos vocês. O que tá feito, tá feito. Não é hora pra esse tipo de discussão. Respeita a mãe e a vó de vocês. (para Lourdes) Você está melhor, meu bem?
LOURDES: Acho que sim, já tá passando...
JUAREZ: A senhora tá melhor, mãe?
D. TITA: Tô, meu filho, foi só um susto.

Juarez e Simone acomodam D. Tita no sofá, enquanto Airton e Gerson cuidam de Lourdes.

GERSON: Se alguma coisa acontecer, a culpa é toda sua.
BERNARDO: Quer saber? Eu não devo satisfação nenhuma a vocês! Só devo satisfação ao meu pai, à minha mãe e à minha avó. Eu não vou ficar aqui ouvindo desaforo de vocês não. Fui!

Bernardo caminha em direção à porta.

JUAREZ: Bernardo, aonde você vai? Volte aqui! Bernardo volte aqui!

Bernardo não dá ouvido, bate a porta e sai irritado.

Continua amanhã...


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Você sabia?

A "saída do armário", nos mais jovens, é mais comum ser noticiada aos familiares e/ou amigos e também acontece de celebridades e pessoas públicas revelarem-se publicamente sobre suas orientações sexuais.

23 de fev. de 2012

GLS TEEN - CAP. 88



No capítulo anterior...
- Joaquim parte de Belém com destino a São Paulo. Ele procura alguém no ônibus mas não encontra
- Numa parada Joaquim encontra Carlete e eles falam do sonho de viver em São Paulo
- Gilberto se sente sozinho em casa e relembra dos natais que passava com a família
- Joana capricha na produção. Ela fantasia o encontro com Ricardo, o vizinho bonitão

CAP. 88

Joana termina de se arrumar. Discretamente vai pra sala e dali para o portão. Mas para sua surpresa, a casa de Ricardo está toda apagada.

JOANA (para si mesma): Será que ele saiu? Danadinho... Então foi por isso que não falou nada... O safado já tava de plano de me dar o cano... Mas deixa estar... Eu te pego na reta, seu sacana!

Gilberto caminha pela rua, mas não vê movimento algum. A cidade parece morta. Euforia mesmo só nas casas, onde há muitas luzes acesas, crianças correndo, música alta...

GILBERTO (para si mesmo): Diacho! Não tem nada nessa cidade! Onde se meteu todo mundo?

O rapaz chega ao hotel onde morava e encontra um conhecido, o recepcionista.

GILBERTO: Boa noite, José! Feliz Natal!
JOSÉ: Feliz Natal pra você também, rapaz! E aí, vai cear aonde?
GILBERTO: Em lugar nenhum, eu não tenho parentes aqui na cidade. Minha família mora toda em Joanésia...
JOSÉ: E você não quis ir pra lá?
GILBERTO: Querer eu até queria, mas não posso. Meu pai tá brigado comigo, entende? Minha presença não seria bem vista lá...
JOSÉ: Mas Natal é dia de paz, de harmonia, seria uma boa oportunidade pra fazer as pazes...
GILBERTO: Mas com o meu pai não tem essa conversa não, o velho é turrão que só ele.
JOSÉ: Entendo. Mas e aqui, em Ipatinga, você não tinha lugar nenhum pra ir?
GILBERTO: Então, um amigo até me convidou pra ir pra casa da família dele, mas eu não conheço ninguém lá, só ele. Achei que ia fica muito deslocado...
JOSÉ: É chato mesmo, chegar num lugar estranho, sem conhecer ninguém...
GILBERTO: O jeito é ficar sozinho mesmo... Mas não imaginei que fosse tão ruim. Dá uma saudade da casa cheia de gente, da família, de tanta coisa que a gente fazia lá... Engraçado, quando morava lá eu nem dava valor a nada disso, parecia tão comum, às vezes até sem graça.
JOSÉ: É, meu rapaz, a gente só dá valor nas coisas quando perde. A vida é assim mesmo. Mas você é jovem, ainda tem muita coisa pra viver nessa vida. Esse Natal é só o primeiro que você passa sozinho, muitos outros virão... Daqui a pouco você vai construir a sua família, vai ter os seus filhos, a sua mulher, e tudo recomeça de novo...

Gilberto fica pensativo e distante.

Em seguida ele vai à rodoviária, único lugar onde há algum tipo de movimento. No boteco, toma uma cerveja, mas continua sozinho, porque todos que estão à sua volta são estranhos.


No Recife, o clima é de festa na casa de Juarez e Lourdes: árvore de Natal na sala, música natalina de fundo. A família se confraterniza.

Chega a hora da revelação do amigo secreto. Cada um faz o seu discurso antes de entregar seu presente. Juarez é o penúltimo a revelar seu amigo.

AIRTON: Vai ser breve no discurso, pai? Porque eu tô morrendo de fome...
JUAREZ (para Airton): Vou filho, pode ficar tranquilo. (para todos) Bom, quero dizer que é um prazer ter a nossa família reunida. Nesse momento de festa e confraternização, que é o Natal, é uma felicidade pra um pai ter a sua família em paz, em harmonia. Que Deus nos abençoe e que seja sempre assim...
GERSON (interrompendo): Pai, mas o senhor falou que não ia fazer discurso...
SIMONE: Isso aqui não é a formatura do batalhão, pai...
LOURDES: Gente, deixa o pai de vocês falarem, que coisa! Que desespero...
D. TITA: É, certas coisas não mudam em lugar nenhum: a ansiedade das crianças é sempre a mesma...
JUAREZ (pega a caixa com o presente): Tá bom, tá bom... Vou direto ao assunto. O meu amigo é um cara muito bacana, o mais estudioso da família, o xodó da vovó...

TODOS (em coro): Bernardo! Bernardo! Bernardo!

Bernardo abraça e beija o pai, recebe o presente. Abre e mostra uma bela camisa.

BERNARDO: Bom, como eu sou o último, não tem segredo: o meu amigo é a Simone. (entrega o presente, beija-a, etc.)
LOURDES: Já que estavam todos famintos, então vamos pra mesa que a ceia tá servida.
BERNARDO (interrompendo) Ei, pera aí que eu tenho uma coisa pra dizer. (todos se voltam pra ele) Antes de irmos pra mesa, eu quero aproveitar a família toda reunida aqui pra dizer uma coisa.
JUAREZ: Que foi filho? Que coisa importante é essa?

Bernardo esfrega as mãos, tenso, pensa, olha para todos. Um suspense toma conta do ambiente.

BERNARDO: Eu quero aproveitar todos aqui pra dizer que... Pra dizer que eu... Eu... Eu sou... (respira fundo) Eu sou gay! É isso: eu sou gay!

Suas palavras caem como uma bomba. Todos ficam chocados.

Continua amanhã...


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Você sabia?

Processo de identidade sexual: "sair do armário" - Muitas pessoas que se sentem atraídas por membros do seu próprio sexo experimentam um processo chamado de "saída do armário" em algum momento de suas vidas. É a prática de revelar publicamente a orientação sexual de uma pessoa "enrustida".