29 de jun. de 2012

GLS TEEN - CAP. 197



No capítulo anterior...
- Joana descobre que seu pai foi ao apartamento de Célia. Ela tenta avisar, mas não consegue
- Tatão desiste de matar Célia, cai em desespero e começa a chorar. Depois volta pra casa
- Joana pede ajuda a Lorraine para que ela aconselhe seus pais a procurarem ajuda
- Lorraine aconselha Bebel a sumir por um tempo até a mídia esquecer o escândalo do Senador
- Algumas semanas se passam
- Gilberto conta a Joel que o relacionamento com Hoffmann está engrenando
- Lourdes e Juarez contam sua experiência na reunião do Grupo de Apoio a Pais de Homossexuais
- Depois de um dia quente e estressante, Hoffman sofre um AVC. Gilberto se desespera

CAP. 197

Gilberto corre à portaria e liga para uma ambulância do SAMU. Desorientado, corre de volta à garagem para tentar reanimar Hoffmann, sem sucesso.

Longos minutos se passam até à chegada da ambulância. O socorrista não lhe dá muitas esperanças, enquanto presta os primeiros socorros à vítima.

SOCORRISTA: O caso dele é grave. Precisamos removê-lo para o hospital o mais rápido possível.
GILBERTO: Ele vai ficar bem seu enfermeiro? Ele vai se recuperar?
SOCORRISTA: Só o médico poderá lhe dizer isso, meu rapaz. Vamos! Rápido!

A sirene de ambulância rasga a avenida W3 Sul em direção ao hospital. O problema é que em pleno horário de almoço os congestionamentos são inevitáveis. Alguns carros saem da frente, outras vezes o motorista da ambulância corta por cima das calçadas, dos canteiros. Mas apesar de todo esforço, a caminhada é longa. Os minutos parecem horas. O hospital de destino fica na Asa Norte, a alguns quilômetros do apartamento.

Com muita dificuldade, a ambulância finalmente chega ao hospital e os médicos prestam os primeiros socorros a Hoffmann.

Na manhã seguinte, no CTI, Gilberto recebe autorização para visitar o namorado. Ele fala com dificuldade, porque ficou com um lado do corpo paralisado.

GILBERTO: Como você está meu querido?
HOFFMANN: Eu tô bem. Não fosse você eu não tinha escapado dessa.
GILBERTO: Que isso? Eu não fiz mais que minha obrigação. Você ainda vai viver muito meu bem. Ainda vamos aproveitar muito a vida juntos.
HOFFMANN: Você é um menino de ouro. Obrigado.

Hoffmann esboça um sorriso e uma lágrima escorre no canto do seu olho.

Nisso o médico entra.

MÉDICO: Melhor deixar o paciente descansar. Ele não pode fazer esforço.
GILBERTO: Sim senhor. Eu já tô de saída. (para Hoffmann) Fique bem meu querido. Eu tô aqui do lado de fora, esperando a sua recuperação.

Gilberto e o médico conversam no corredor.

MÉDICO: Ele teve um AVE, acidente vascular encefálico. É o que as pessoas chamam de derrame cerebral. Estouraram algumas veias no cérebro. As próximas horas serão decisivas. Ele pode se recuperar, mas é bem provável que fique com sequelas. O derrame pode paralisar um lado do corpo, mas só com o passar das horas é que teremos um diagnóstico mais preciso.
GILBERTO: Ele tem plano de saúde. Faça o que preciso para que ele se recupere, doutor. Por favor.
MÉDICO: Eu sei. Já entramos em contato com o médico dele. O Dr. Veras tá vindo pra cá pra acompanhar o caso dele.

Mais tarde, a família almoça reunida.

JUAREZ: Hoje sou eu que quero aproveitar a família reunida pra dizer algumas palavras antes de almoçarmos.
AIRTON: Ih! Lá vem bomba! As refeições nessa casa se tornaram um “salve-se quem puder!”
LOURDES: Deixa o seu pai falar, menino! Mania feia de interromper os mais velhos.
JUAREZ: Eu quero falar mais especificamente pra Betina, a nossa filha.

Betina se admira ao ver o pai chamando-a dessa forma, assim como seus irmãos.

SIMONE: Betina? Até o senhor papai?
JUAREZ: Não é fácil pra mim dizer isso, mas hoje eu quero dizer pra todos vocês que eu aceito o Bernardo, ou melhor dizendo, a Betina, do jeito que ela é. E se ela se sente como mulher, se ela resolveu virar mulher, se ela é feliz como mulher, nem eu nem sua mãe vamos mais contestar isso. Que ela seja muito feliz do jeito que ela é, do jeito que ela achar melhor.

Betina chora.

LOURDES: Eu tinha muito medo pelo futuro do meu filho. Tinha muito medo da reação das pessoas. Elas são maldosas, julgam, atiram pedras... Eu não queria que nenhum dos meus filhos sofresse. No começo eu tinha uma sensação de culpa, de fracasso. Sentia que não tinha dado a educação adequada, que não tinha sido uma boa mãe. Mas hoje eu compreendo que não é nada disso. As pessoas que são diferentes, são diferentes e pronto! E precisam ser amadas como elas são. Apesar de ter errado muito no começo, hoje eu tô aqui pra te apoiar. Pode contar comigo para o que for preciso... Minha filha.

Lourdes vai até Betina e a abraça. As duas choram compulsivamente.

JUAREZ: Eu só espero que você seja uma “moça” honesta, descente, de princípios, assim como todos os meus filhos foram criados nessa família. Eu sei que nós vamos enfrentar muitas dificuldades, muitas barreiras, muito preconceito. Mas eu e sua mãe estamos aqui pra te apoiar. (e para os outros filhos) E eu não quero saber de ninguém censurando a Betina. A partir de hoje ela é uma moça. E é como se ela tivesse nascido assim e crescido assim. Estamos entendidos?

Os irmãos balançam a cabeça afirmativamente, ainda que surpresos com a atitude do pai.

Todos choram, emocionados. Cada um vai até Betina, beija e a abraça com carinho.

Num outro andar do prédio...

O clima fica cada vez mais tenso. Tatão e Vanilda não aceitam o relacionamento lésbico da filha. Eles tentam se impor pela força, mas Joana não aceita.

TATÃO: Aonde você vai menina?
JOANA: Eu tô indo ao colégio fazer um trabalho.
TATÃO: Mentira! Você tá indo encontrar aquela sujeita!
JOANA: E se tiver pai? Qual o problema? Eu sou maior de idade.
TATÃO: Você é maior de idade, mas eu ainda sou o chefe dessa família. Sou eu quem paga as contas aqui. E enquanto você tiver morando debaixo do meu teto, vai ter de seguir as minhas ordens.
JOANA: Tá bom pai. Se o problema é esse, eu saio dessa casa. Agora eu tenho pra onde ir. (vira as costas e sai)
VANILDA: Volta aqui menina! Não é assim que se resolvem as coisas...
TATÃO: Eu ainda perco a cabeça com essa menina!

Durante a noite, ao fazer ponto na avenida, Bebel percebe a presença do carro do Senador. Seu assessor estaciona, desce do carro e circula de um lado para outro, como se procurasse alguém. Ela se esconde.

BEBEL (para si mesma): Que droga! Esse cara não vai esquecer de mim não? Eu passei semanas viajando e o cara ainda tá na minha cola?! Eu tô ferrada!

Horas mais tarde, Gilberto percebe uma movimentação intensa de médicos no CTI do hospital. Ele tenta se informar, mas ninguém lhe diz nada. Gilberto fica muito apreensivo. O estado de Hoffmann se agrava.

Na madrugada seguinte, o médico desperta Gilberto, que dorme sentado num corredor do hospital.

MÉDICO: Seu Gilberto, infelizmente a notícia não é boa. Seu Hoffmann não resistiu. Ele acabou de falecer. A gente fez tudo que era possível, mas não deu pra salvá-lo. Ele tinha seguro-funeral, o senhor pode ficar tranquilo que vamos tomar todas as providências. Só pedimos ao senhor que, por gentileza, avise a família.
GILBERTO: Ele tem apenas uma irmã que mora na Europa e alguns poucos parentes distantes no Rio Grande do Sul. Acho que é avisar só por formalidade mesmo, porque pro velório ninguém terá condições de vir, não haverá tempo pra isso...
MÉDICO: Bom, o senhor faça como achar melhor. Meus sentimentos. (e sai)

Gilberto chora.

O sepultamento acontece e a maioria dos presentes é justamente os moradores do condomínio. Juarez, Tatão e suas famílias, o síndico, Lorraine e Joel prestam sua solidariedade a Gilberto, que é porteiro no prédio e é muito querido por todos.

Gilberto acompanha Hoffmann até o derradeiro instante, jogando uma rosa vermelha sobre o caixão.

Alguns dias depois, Gilberto é chamado para uma visita ao consultório do Dr. Veras, o médico particular de Hoffmann. Ele não entende o motivo da tal visita, mas vai até lá.

VERAS: Seu Gilberto, eu percebi que o senhor acompanhou o seu Hoffmann durante os seus últimos meses de vida. Percebi que o senhor tinha uma dedicação, um carinho muito grande por ele. E descobri também que o senhor não era parente dele. Vocês eram parceiros sexuais, não é isso?
GILBERTO: Sim, a gente tinha um relacionamento.
VERAS: Vocês faziam sexo seguro, se preveniam direitinho? Ele te contou alguma coisa?
GILBERTO: Sim, geralmente a gente fazia sexo seguro, mas, porque o senhor tá me perguntando isso?
VERAS: Não se assuste com o que eu vou lhe dizer, mas o seu Hoffmann era soropositivo, ele tinha o vírus HIV.

Gilberto fica pálido de tanto susto.

VERAS: Se vocês faziam sexo seguro, não há com que se preocupar. Mas, de qualquer forma, é preciso que você faça um teste de HIV pra saber se está tudo bem com você.

Apesar da orientação do médico, Gilberto fica em pânico. Os dias seguintes são de muita apreensão e sofrimento. Ele vai ao laboratório e colhe o sangue para o exame.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS...

Joana tem mais uma discussão com os pais.

JOANA: Eu vou morar com a Célia sim! E se vocês querem saber, ela tá lá embaixo na portaria me esperando pra gente sair. Eu tô de saco cheio de tanta pegação no meu pé! E se o problema é morar nessa casa, não vai ter problema mais. Eu vou lá embaixo conversar com ela e se for preciso vou embora dessa casa hoje mesmo! Fui! (bate a porta e sai apressada)

Betina troca de roupa e a TV está ligada, “falando sozinha”. De repente ouve uma matéria que desperta a sua atenção. Ela para pra assistir.

JORNALISTA: E o Brasiliense acaba de contratar o atacante Ramon, vindo de Pernambuco. Descoberto num time da segunda divisão de Caruaru, o atacante se destacou no Sport Recife e foi o grande responsável pela conquista do campeonato pernambucano. Agora, contratado pelo Brasiliense, o artilheiro é a grande esperança de gols do time amarelinho. A apresentação do jogador à imprensa acontece hoje às duas da tarde no centro de treinamento Rei Pelé.

BETINA: Meu Deus! É o Ramon! Ele conseguiu! Eu não vou perder essa apresentação por nada! Tô indo pra lá agora! (e sai correndo)

Bebel está na varanda lixando as unhas quando o interfone toca.

PORTEIRO (do outro lado da linha): Tem uma senhora querendo falar com a dona Bebel. Mulher grã-fina, bem vestida. Disse que não pode esperar muito.
BEBEL: Tudo bem. Eu tô descendo (e sai)

Gilberto ainda mora no apartamento de Hoffmann. Ele está na cozinha, vestido, pronto para sair, quando o telefone toca. Ele atende, ouve uma instrução e desliga.

GILBERTO: Ai meu Deus! É hoje que acaba essa agonia! Saiu o resultado do meu exame. Eu vou lá agora, não quero esperar mais nem um minuto! Não aguento mais essa tortura! Seja o que Deus quiser! (e sai apressado)

Lorraine vem entrando no hall do elevador com suas sacolas de compras, cumprimenta o porteiro e vai passando toda distraída. Quando a porta do elevador se abre, Gilberto, Betina, Joana e Bebel saem todos apressados. O choque é inevitável. As compras, as frutas e as coisas se espalham todas pelo chão.

LORRAINE: Mas será possível! De novo? Eu já não disse que a Parada Gay é só no mês que vem?!

Por um instante todos congelam.

Continua amanhã... No último capítulo


>>>>>>>>>>>>>>>> 

Você sabia?

Nas artes visuais, destacam-se a arte da Grécia antiga, onde vemos uma preferência pelo corpo masculino nu, os renascentistas Leonardo da Vinci e Michelangelo, e artistas do Maneirismo e Barroco dos séculos 16 e 17, como Agnolo Bronzino, Carlo Saraceni e Caravaggio, cujas obras foram severamente criticadas pela Igreja Católica, além do século XIX pintores como Thomas Eakins, Eugène Jansson, Henry Scott Tuke, Aubrey Beardsley e Magnus Enckell terem retomado histórias homoeróticas da mitologia grega como a de Narciso, Jacinto, Ganímedes e outros. Na modernidade, artistas como Paul Cadmus e Gilbert & George, além de fotógrafos como Wilhelm von Gloeden, David Hockney, Will McBride, Robert Mapplethorpe, Pierre et Gilles, Bernard Faucon e Anthony Goicolea, também contribuíram muito para a arte homoerótica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário