No capítulo anterior...
- Célia diz ao filho que é muito amiga da mãe
de Joana e que estava transmitindo recomendações
- Reynaldo leva Gilberto à Parada Gay de São
Paulo
- Eles estacionam o carro na Av. Consolação e
seguem à pé. Reynaldo lhe mostra várias curiosidades no caminho
- Por fim, em frente ao MASP, Reynaldo beija
Gilberto no meio da multidão, deixando-o atônito
CAP. 179
Ao terminarem o beijo...
GILBERTO: Cara!
Você é maluco?
REYNALDO: Bobinho...
Você ainda não percebeu que estamos nos meio de mais de um milhão de gays? Sem
contar os outros da sopa de letrinhas e os simpatizantes...
GILBERTO: Nem
me lembrei disso... Mas o fato é que fico sem graça...
REYNALDO: Relaxa!
Hoje é nosso dia. Ninguém vai nos recriminar aqui por um simples beijo na boca.
Gilberto ri.
À medida que eles avançam, fica
cada vez mais difícil caminhar devido à aglomeração de pessoas. Com dificuldade
eles chegam até o prédio do Masp.
REYNALDO: Bom,
agora chegamos ao fim da linha. Aqui é o ponto de partida da Parada. Aquele
prédio ali (e mostra) é conhecido como Masp. Ou Museu de Arte de São Paulo.
GILBERTO: Ah!
Esse eu já vi na televisão... Que interessante, ele parece um caixote pendurado...
REYNALDO: É
uma maravilha da engenharia não é? Principalmente se considerando que foi
projetado e construído na década de sessenta. Um dia vou te trazer aí pra gente
visitar. Tem obras de Portinari, di Cavalcanti, Anita Malfati... É um dos
principais museus do Hemisfério Sul, sabia? Aí tem mais de oito mil obras de
arte de todo canto do mundo...
GILBERTO: Eu
não entendo nada desse negócio de arte, mas deve ser interessante mesmo...
Confio no seu bom gosto.
REYNALDO: Não
se preocupe em entender. Você só precisa ver e apreciar.
Depois de assistir a algumas
apresentações e discursos no palco, uma queima de fogos marca o início da
marcha.
Gilberto se deslumbra com as
fantasias e as figuras exóticas que vão surgindo a cada instante.
Reynaldo é um verdadeiro
anfitrião e faz questão de lhe mostrar tudo que vê de mais interessante.
GILBERTO: Caramba!
Quanta fantasia bonita! Quanta drag! Quanto cara bombadão!
REYNALDO: Gostou
dos bombadões, né safado?
GILBERTO: O
que é bonito é pra ser olhado, não é?
REYNALDO: Tem
razão. Hoje pode olhar. Eu deixo. Mas só olhar viu?
Eles caminham de mãos dadas,
ora param e se beijam, ora se soltam, oram param para ler os cartazes cheios de
palavras de ordem e frases de efeito.
GILBERTO: Puxa!
Nunca imaginei estar um dia no meio de uma multidão como essa! Que coisa mais
louca! Se contar ninguém acredita...
REYNALDO: É
uma experiência maravilhosa. Acho que todas as pessoas deveriam passar por aqui
pelo menos uma vez na vida. E pensar que isso aqui começou com duzentas pessoas
sabia?
GILBERTO: Mesmo?
REYNALDO: Sim,
há uns quinze ou dezesseis anos atrás, na primeira parada, tinham apenas
duzentas pessoas. A multidão foi dobrando de tamanho ano a ano até virar esse
mar incontável de gente.
GILBERTO: Eu
só tinha visto esse mar de gente na televisão, no réveillon do Rio de Janeiro.
REYNALDO: Ah
sim. Réveillon no Rio é maravilhoso também. Quem sabe um dia a gente não vai?
Aquela queima de fogos lá é a coisa mais linda do mundo...
A caminhada prossegue. A noite
cai e os canhões de raio laser dos trios elétricos iluminam os prédios da Avenida Consolação.
GILBERTO: Puxa!
Ainda falta muito pra acabar? Pra falar a verdade eu já tô ficando cansado de
tanto andar...
REYNALDO: Já
estamos chegando perto da Praça Roosevelt.
Falta pouco pra acabar.
GILBERTO: Ainda
bem. Tá tudo muito bacana, muito divertido, mas meus pés já não tão aguentando
mais...
REYNALDO: Bom,
eu tenho duas notícias pra você: a boa é que já estamos quase chegando ao
final. A ruim é que vamos de ter de voltar metade do caminho pra trás, porque
nosso carro ficou lá em cima...
GILBERTO: Caramba!
Agora danou-se!
REYNALDO: Fique
tranquilo. A gente vai por uma rua lateral. Fora da muvuca fica mais fácil e
mais rápido pra andar. Rapidinho a gente chega lá.
Nessa mesma noite, em Brasília,
Bebel já retomou suas atividades na avenida.
Ela circula de um lado para
outro à espera de clientes. Pouco depois um carro para e ela fica na
expectativa de ser chamada.
Nisso o motorista, armado com
uma chave de rodas, aproveita um momento de distração de Bebel e dispara a
correr em sua direção.
Atônita, Bebel corre
desesperada.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Embora
às vezes seja afirmado em debates políticos que casais heterossexuais são pais
inerentemente melhores do que casais do mesmo sexo, ou que os filhos de pais
homossexuais fiquem piores do que crianças criadas por pais heterossexuais,
estas afirmações não encontram qualquer suporte na literatura de pesquisa
científica. Na verdade, a promoção deste conceito, e as leis e políticas
públicas que encarnam, são claramente contraproducentes para o bem-estar das
crianças. O gênero do pai ou da mãe não é um fator de ajuste para uma criança.
A orientação sexual de um indivíduo não determina se essa pessoa será, ou não,
um bom pai. Crianças criadas por pais gays ou lésbicas são, normalmente, tão
saudáveis, bem sucedidas e bem ajustadas quanto crianças criadas por pais
heterossexuais. A pesquisa que corrobora essa conclusão é aceita inclusive além
de qualquer debate sério no campo da psicologia do desenvolvimento.
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