28 de jun. de 2012

GLS TEEN - CAP. 196



No capítulo anterior...
- Depois do escândalo de Jussara e Joselito, Joana é demitida da loja
- Bebel recebe uma ligação ameaçando-a de morte e Lorraine a aconselha a tomar cuidado
- Betina avisa à família que vai sair de casa para fazer sua cirurgia de mudança de sexo
- Gilberto e Hoffmann viajam num final de semana e se envolvem cada vez mais
- Desorientado, Tatão vai à casa de Célia armado com uma faca, na intenção de matá-la  

CAP. 196

JOANA: Mãe, faz alguma coisa! A senhora tem de impedir meu pai de fazer essa loucura!
VANILDA: Que loucura menina? Do que é que você tá falando?
JOANA: Meu pai pegou uma faca e foi pra casa da Célia.
VANILDA: Ah meu Deus! Esse homem perdeu o juízo? Não é possível! Mais um desajuizado na família é demais!

Vanilda corre para o telefone e liga, mas o celular toca no quarto.

VANILDA: E agora, o que eu faço meu Deus?! Tá vendo o que você me apronta? Se não fosse pelos seus desatinos nada disso estaria acontecendo! E agora se o seu pai cometer um desatino e for parar na cadeia, o que será de nós?
JOANA: Droga! Droga! (pensa um instante) Eu preciso avisar a Célia! Me dá esse telefone aqui.

Joana disca, mas Célia está no banho e nem nota o celular vibrando.

Joana sai correndo e vai ao apartamento de Lorraine pedir ajuda.

LORRAINE: Calma filha, entrar num prédio não é tão simples assim. Tem porteiro, tem circuito fechado de TV. Acho que você tá se preocupando à toa.
JOANA: Eu tentei avisá-la, mas não consegui. Celular não atende.
LORRAINE: Tenta de novo. Liga aqui do meu (e lhe entrega o aparelho)

Joana liga, mas Célia não atende. Ainda está no banho.

JOANA: E agora, o que eu faço? E se meu pai fizer uma besteira?
LORRAINE: Calma, não vai acontecer nada. Agora não há nada que se possa fazer. O melhor é esperar. Talvez sua namorada nem esteja em casa.
JOANA: Lorraine, se não for pedir muito, você podia falar com meus pais, dar uns conselhos pra eles... Eu soube que você falou com a família da Betina e eles até procuraram o psicólogo. Você fala com meus pais? Por favor...
LORRAINE: Sim, claro. Falo sim. Não me custa nada. Mas agora se acalme.

Tatão chega ao prédio e fica na espreita. Assim que o porteiro ultrapassa o portão carregando alguns sacos de lixo, ele passa de fininho e se dirige ao elevador.

Ao chegar no hall do apartamento, uma série de questionamentos começam vir à sua cabeça. Ele tem uma visão, na qual vê policiais o algemando na frente da sua mulher e de seus filhos. Todos choram desesperadamente. Quando o policial o joga dentro da viatura e bate a porta do camburão, ele volta a si e desperta assustado.

TATÃO (para si mesmo): Meu Deus! O que eu tô fazendo aqui?! Eu não posso fazer isso com a minha família. Eu não posso curar um mal com outro maior ainda. O que meu deu na cabeça? Toma juízo homem! Você é um pai de família! Você não pode fazer uma besteira dessas!

Ele senta no corredor e chora. Depois de algum tempo desiste e vai embora sem incomodar Célia.

Joana se despede e vai embora. Nisso Bebel entra na sala.

BEBEL: Mona, recebi mais duas ligações daquelas, me ameaçando de morte. O que eu faço?
LORRAINE: Puxa! O dia hoje começou quente. Primeiro a sapatinha, agora você...
BEBEL: Me ajuda, mona! O que eu faço?
LORRAINE: Sinceramente? Eu acho que você devia sumir por uns tempos. Sei lá, faz uma viagem. Aproveita que a Pâmela vai viajar e passa uns dias com ela lá no Recife. Você vai ter de esperar a poeira baixar. Você se meteu com gente da pesada e enquanto a imprensa não esquecer esse escândalo, você vai ficar no olho do furacão.
BEBEL: Boa ideia. Vou falar com ela agora mesmo. (e sai)

Lorraine respira fundo e senta no sofá.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Gilberto e Joel conversam na portaria do prédio.

GILBERTO: Respondendo ao que você perguntou, a gente tá se conhecendo melhor e se acertando. Pra falar a verdade tô até gostando da experiência de namorar um coroa. O Hoffmann é um cara muito legal, bem humorado, paciente. Ele é culto, sabe de tanta coisa, já viajou pra um monte de lugares bacanas, até pra fora do Brasil...
JOEL: E o sexo, como é? Ele funciona direitinho?
GILBERTO: Funciona, claro. Ele só não tem o fogo e a disposição do Romero ou do Reynaldo, mas é bom de serviço. Digamos que não tem quantidade, mas tem qualidade, entende? Ele é mais calmo, mais paciente. Valoriza mais as preliminares... É um esquema diferente, entende?
JOEL: Bom, terceira idade nunca foi a minha especialidade, mas, pelo visto você tá gostando muito.
GILBERTO: Ele tem me proporcionado muita coisa legal, diferente. Ultimamente nem me lembro mais do Reynaldo...
JOEL: Tá vendo o que eu te disse? Pra esquecer uma paixão, só outra. Depois que você se envolve com outra pessoa, mesmo que não seja o grande amor da sua vida, logo logo você nem se lembra do outro mais...
GILBERTO: Mais uma vez você tinha razão. Sabe tudo minha amiga Juju... (risos)

Orientados por Lorraine e Pâmela, Juarez e Lourdes procuram doutora Cacilda na ONG. Ela, por sua vez, os orienta a participar de um grupo de apoio para pais de homossexuais, para que possam compreender melhor as particularidades da transexualidade. Depois de várias reuniões só participando, só ouvindo, o casal resolve dar o seu testemunho.

MEDIADOR: Este é o senhor Juarez.
TODOS: Oi Juarez!
JUAREZ: Eu gostaria muito de agradecer a cada um de vocês pela acolhida nos deram nesse grupo. É muito difícil aceitar que temos um filho homossexual, mas quando chegamos em um ambiente onde todos compartilham dessa condição, as coisas ficam mais fáceis. Eu tenho aprendido muito com todos vocês. Eu sou coronel do Exército e no começo tinha uma dificuldade enorme em aceitar o meu filho transexual. Isso era uma coisa inconcebível pra mim. Embora desde a infância ele sempre demonstrasse que era uma criança diferente, eu sempre fiz questão de ignorar e fingir que aquilo não tinha importância. Não entrava na minha cabeça uma coisa dessas. Mas chegou o dia que não deu pra ignorar mais. As coisas começaram acontecer e a sua sexualidade começou a aflorar. Sofremos muito com isso, mas hoje eu aprendi que precisamos amar os nossos filhos como eles são. Eles não são nem melhores nem piores que os outros. São apenas diferentes. E ninguém tem culpa de nascer diferente. Não podemos culpar um surdo por ser surdo, nem um deficiente por ser deficiente. Eles são assim e pronto. E a nós, pais, cabe amá-los, respeitá-los e lutar para que eles sejam felizes. O meu muito obrigado a todos vocês.

Todos aplaudem.

MEDIADOR: Esta é a Lourdes.
TODOS: Oi Lourdes!
LOURDES: Eu não sou muito boa com as palavras, mas quero agradecer a esse grupo e a todos vocês por terem nos acolhido aqui. Nós estávamos numa situação limite por causa do nosso filho. Meu marido Juarez teve um ataque cardíaco e quase morreu. Eu fiz uma coisa que tenho até vergonha de confessar, mas eu tentei tirar a minha própria vida me jogando na frente de um carro, de tanto desespero, de tanta vergonha que eu senti ao descobrir que tinha um filho transexual. Graças a Deus apareceu uma alma bondosa que me impediu de cometer aquela insanidade. E por incrível que pareça, naquele momento de extremo desespero, a primeira pessoa que me estendeu a mão foi justamente o meu filho. Eu levei muito tempo para entender que mais importante que a sexualidade dos nossos filhos, é o amor que sentimos por eles. E esse amor é capaz de superar tudo. Nós estamos começando agora, ainda temos muito que aprender, até entender esse fenômeno da transexualidade, mas a lição mais importante nós já aprendemos com vocês: amar os nossos filhos como eles realmente são. Muito obrigado.

Todos aplaudem.

No dia seguinte, perto da hora do almoço, Hoffmann e Gilberto vão ao supermercado fazer compras. O calor é intenso e Hoffmann transpira muito. Por várias vezes reclama de falta de ar, dor de cabeça e mal estar.

GILBERTO: Chegando em casa a gente vai ligar pro médico e marcar uma consulta pra você. Esse negócio não tá certo não...
HOFFMANN: Deve ser o calor. Tá muito quente e seco...

Ao chegarem à garagem do prédio, Gilberto tira uma caixa de papelão do porta-malas e segue para o elevador, sem prestar atenção no parceiro, que fica pra trás.

Hoffmann tira a outra caixa, mas ao fazer força ele sente mal e cai.

Algum tempo depois, Gilberto volta e se depara com Hoffmann estirado no chão, inerte.

GILBERTO: Hoffmann?! Ai meu Deus! E agora? O que eu faço?

Ele tenta despertar Hoffmann, que não reage. Gilberto se desespera.

Continua amanhã...


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Você sabia?

Literatura - Machado de Assis - mostrando inovação e audácia no cenário literário de seu tempo - escreveu contos como "D. Benedita" de Papéis Avulsos e "Pílades e Orestes", em que existe uma temática lésbica e gay, respectivamente. Além disso, alguns consideram que o Bentinho do romance Dom Casmurro (1899) era apaixonado por seu amigo Escobar, e não (ou também por) Capitu. Na literatura portuguesa, temos os nomes de Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, Antônio Botto (que morou e faleceu no Rio de Janeiro) e Al Berto; Pessoa, por exemplo, sob o heterônimo de Álvaro de Campos, escrevia: "Eu, que tenho o piscar de olhos do moço do frete" ("Poema em linha reta"). Em outras literaturas, destacam-se os sonetos de Shakespeare, Walt Whitman, Christopher Marlowe, Virginia Woolf, Arthur Rimbaud, Marcel Proust, André Gide, Michel Foucault, Roland Barthes e outros.

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