No capítulo anterior...
- Gilberto confessa a Joel que sente muita
falta de Reynaldo
- Bebel atende um cliente que fica inventando
desculpas para não usar preservativo
- Bernardo chega a Caldas Novas, mas não se
empolga com a cidade
- Bebel dá ultimato ao cliente: ou usa
preservativo, ou nada de sexo
CAP. 165
CLIENTE: Calma,
gata, não precisa ser tão radical assim. Se você ir embora sem completar o
serviço, eu não vou pagar pelo atendimento.
BEBEL: Bom,
se eu tô aqui perdendo o meu tempo, tu me fala logo que eu vou ralar peito. Tô
a fim de perder a noite inteira aqui não. Ou você usa a camisinha, ou então a
brincadeira acaba aqui.
CLIENTE: Sabe
o que é gata, é que não tenho o hábito de usar, aliás, nunca tive. Eu gosto de
transar é sem. Eu sou casado e com a mulher eu não uso, entende?
BEBEL: Não.
Não entendo.
CLIENTE: Isso
me tira o prazer, me fazer perder a ereção... É como chupar uma bala com o
papel, entende? Você é limpinha não é?
BEBEL: Cara,
você deve ser maluco! Se tu é casado, mais um motivo pra não fazer nada sem
usar a camisinha. Você não tem medo de passar uma doença pra sua mulher não?
Não tem medo dela descobrir que você cisca em outros terreiros não?
CLIENTE: Medo
eu tenho, por isso que eu só saio com gente limpinha feito você.
BEBEL: E
que garantias você tem que tô limpa? Quem te garante que eu não tenho alguma
doença? Cara, você é louco de confiar nas pessoas desse jeito! É a sua saúde, a
sua vida! Pior, é a vida de outra pessoa, da sua mulher também que tá correndo
risco.
CLIENTE: Não,
eu sempre tomo cuidado...
BEBEL: Toma?
Igual você tá tomando comigo agora? Se esse for o seu cuidado, eu tenho pena de
você e da sua família...
CLIENTE: Por
quê? Você acha que é tão perigoso assim?
BEBEL: Cara,
você nunca ouviu falar em DST, AIDS, hepatites, nada disso?
CLIENTE: Já
vi alguma coisa na televisão, folheto na rua...
BEBEL: Você
precisa se ligar na parada, amigo. Existe mais de dez tipos de doenças que são
transmitidas pelo sexo. Mais de dez!
CLIENTE: Eu
só tinha ouvido falar daqueles piolhos, de Aids... Mas não pensava que era
fácil de pegar assim não... Pensava que só acontecia com gente descuidada... Eu
sempre pergunto se a pessoa tá limpa antes de fazer alguma coisa...
BEBEL: Pensamento
errado! Acontece com a gente sim! É só dar mole que acontece. Quem vê cara não
vê doença... A pessoa pode tá com uma aparência ótima e lá por dentro tá
contaminada, tipo aquelas goiabas brancas, já viu? Você olha por fora assim, é
aquela fruta mais linda. Quando você morde, o bicho tá dentro... Você acha que
se a pessoa tiver alguma coisa ela vai falar pra você? Não vai! É você que tem
que se ligar e ficar esperto...
O cliente faz uma pausa, pensa
um pouco...
CLIENTE: Nossa,
depois dessa eu até perdi o tesão...
BEBEL: Mas
fique tranquilo, você pode ter perdido a transa, mas ganhou muitos anos de
vida, porque de agora em diante você vai ficar esperto. Não vai com qualquer um
e muito menos sem usar camisinha.
CLIENTE: É,
se você tá dizendo, deve ter razão, afinal de contas você vive nesse meio e
conhece muito mais gente do que eu.
BEBEL: Escuta
isso que vou te falar: nunca mais faça nada com ninguém sem camisinha! E se a
outra pessoa pedir, não aceite! Se ela pedir, é mais um motivo pra você
desconfiar. Se a pessoa não tá interessada em se proteger, é porque não tem
nada mais a perder, entende?
CLIENTE: É,
pensando bem você tem razão. Faz sentido o seu raciocínio.
BEBEL: Meta
isso na sua cabeça de uma vez por todas: sem camisinha não faça nada! Se você
pegar uma DST, engravidar uma mulher, você ainda vai ficar no lucro. Pior é se
você pegar uma sífilis, uma aids. E pior ainda: se você passar essas doenças
pra coitada da sua mulher que não tem nada a ver com isso. Já pensou o complexo
de culpa que você vai ficar se passar uma doença dessas pra sua companheira? Já
pensou como é que vai ficar a sua situação na família? Então, pensei bem!
Melhor chupar a bala com casca do que ir comer capim pela raiz depois...
O cliente tenta quebrar o
clima...
CLIENTE: Vamos
tomar um banho? Depois a gente continua de onde parou...
BEBEL: Mas
você vai encapar o palhaço pra gente brincar?
CLIENTE: Vou.
Depois do que você falou, agora vou. Nunca mais quero fazer nada com gente
estranha sem usar a tal da camisinha. No começo eu não vou gostar, vou
estranhar... Mas eu vou tentar sim.
BEBEL: Muito
bom. Se for assim, então vamos lá pro nosso banho.
Amanhece o dia...
Bernardo e os irmãos saem para
dar uma volta no centro de Caldas Novas.
Como é carnaval, há uma intensa
movimentação nas ruas. Muita gente fantasiada, que dá a impressão de ter virado
a noite na farra, outros que estão chegando agora. Muitos rapazes só de
bermuda, sem camisa. Moças com roupinhas curtas, bem à vontade. Muitas garrafas
e copos nas mãos. Vários carros com seus porta-malas abertos e som nas alturas
indicam que o som automotivo e a variedade de ritmos é quem manda na cidade
goiana.
Os irmãos se deslumbram com
tudo, criticam algumas coisas e elogiam outras. Param diante de cada novidade
ou estabelecimento.
AIRTON: Tá
vendo? Vocês disseram que aqui era o fim do mundo? Não é bem assim não... O
negócio aqui parece que dá pé... Olha ali, Bernardo (e mostra um rapaz saradão,
de sunga)
BERNARDO
(irreverente): Olha, tô começando a achar que vou gostar muito de Caldas Novas...
Continua amanhã...
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Você sabia?
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