No capítulo anterior...
- Bebel conta às amigas travestis o que lhe
acabara de ocorrer. Elas mal acreditam
- Joana caminha pelo shopping e é convidada a
fazer uma entrevista de emprego numa loja
- Lorraine explica a Bernardo as dificuldades
porque passam as travestis
- Bebel diz que seu sonho é ir pra Itália,
colocar silicone arrumar um marido rico
- Reynaldo se despede de Gilberto e pergunta
se ele irá visitá-lo em São Paulo
CAP. 162
GILBERTO: Como
eu te disse, não posso prometer. Só vou ter férias daqui um tempão ainda. Mas
vontade não falta. Na verdade só via aquela cidade na televisão, mas não posso
negar que fiquei muito interessado na ideia...
REYNALDO: Então,
vai mesmo. Você não terá despesa nenhuma lá. Faço questão de bancar tudo pra
você: suas passagens, estadia, passeios... Tudo por minha conta. Só pra estar
um pouquinho mais junto desse mineirinho gostoso, uai.
GILBERTO: Para
de me criticar, rapaz. Do jeito que você fala parece que mineiro é artigo de
circo...
REYNALDO: É
que eu adoro esse seu jeitinho, esse sotaque cantado... Mas falando sério:
melhor eu ir agora. Você tá em horário de trabalho e eu ainda preciso pegar a
estrada.
GILBERTO: Fico
muito feliz que tenha vindo aqui se despedir de mim. E mais uma vez, obrigado
por tudo.
REYNALDO: Eu
é que agradeço, por esses dias maravilhosos que você me proporcionou. Sempre
que a empresa tiver alguma coisa pra resolver aqui em Brasília, vou me oferecer
logo pra vir... Só pra te ver... A gente vai se falando. Você tem meus
contatos, quando quiser, é só me ligar.
GILBERTO: Boa
viagem e dê notícias quando chegar lá.
REYNALDO: Vamos
dar um beijo gay de despedida agora?
GILBERTO: Ficou
maluco? Quer que eu fique falado aqui no meu trabalho ou seja mandado embora?
REYNALDO: Brincadeira.
Só falei isso pra ver a sua reação. Beijos, meu lindo! Se cuida!
Reynaldo arranca com o carro
enquanto Gilberto acena, com os olhos marejados.
Dias depois...
Joana desliga o telefone na
sala e chega exultante à cozinha onde sua mãe prepara o almoço.
VANILDA: Menina!
Parece que viu passarinho verde. Que alegria é essa?
JOANA: E
vi mesmo, mãe! A senhora não vai acreditar...
VANILDA: Bom,
se você não me contar, não tem jeito mesmo de acreditar... Diga, o que foi?
JOANA: O
gerente da loja me ligou e disse que eu fui aprovada na entrevista! Começo a
trabalhar segunda-feira.
VANILDA: Puxa!
Notícia boa mesmo. Mas tem certeza que isso não vai prejudicar os seus estudos?
Eu preferia você estudando, não trabalhando.
TATÃO
(entrando): Bem ou mal eu e a sua mãe temos sustentando vocês todos na escola
até hoje...
JOANA: Eu
sei, pai. Mas trabalhar significa ser independente, tomar a rédea da própria
vida. E isso não vai prejudicar em nada o meu estudo. Vou continuar estudando
do mesmo jeito, no mesmo horário...
TATÃO: Sendo
assim, se você garante... Aí fico mais tranquilo. E como é essa loja lá?
JOANA: É
uma loja de óculos de sol, óculos esportivos, coisa pra gente jovem,
descolada...
VANILDA: E
pagam bem, filha?
JOANA: Não
é nenhuma fortuna, mas é loja de shopping, né mãe? Não é qualquer botequim de
esquina... É um salário razoável.
VANILDA: Que
bom, filha. Fico feliz por você.
Joana abraça a mãe e a beija.
Joel chega à portaria do
condomínio para conversar com Gilberto.
JOEL: O
que houve que a minha amiga “Gildete”
está toda borocochô? Deixa eu tentar adivinhar... Hum... Conheceu um bofe
escândalo e tá apaixonada de novo?
GILBERTO: Não
é nada disso, seu bobo! É o Reynaldo...
JOEL: Ah!
Você tinha me falado que ele ia embora. E foi mesmo?
GILBERTO: Foi. Tem uns dias já...
JOEL: Ah... Então é por isso que a minha amiga tá tristinha....
GILBERTO: Até passou a aqui pra se despedir de mim... É um cara muito bacana ele!
JOEL: Nossa! Veio aqui se despedir de você? Então ficou freguês mesmo...
GILBERTO: Até passou a aqui pra se despedir de mim... É um cara muito bacana ele!
JOEL: Nossa! Veio aqui se despedir de você? Então ficou freguês mesmo...
GILBERTO: Veio,
e ainda insistiu naquela história pra eu ir visitá-lo em São Paulo.
JOEL: Uai,
nesse caso, se o cara insiste tanto assim e ainda se dispõe a bancar tudo, acho
que você tem mais é que aproveitar a oportunidade. A gente só tem vinte anos
uma vez na vida, querida!
GILBERTO: Como
assim?
JOEL: Tô
querendo dizer que quando você é novinho, todo mundo te quer, todo mundo te
banca, todo mundo te convida pra fazer um monte de coisas. Depois que você
tiver “velha”, como eu, ninguém vai
te chamar pra mais nada!
GILBERTO: Então
você acha que eu devia aproveitar?
JOEL: Com
certeza, querida. Cavalo selado só passa uma vez...
GILBERTO: Você
é muito engraçado... Tem vez que fico rindo sozinho dessas coisas esquisitas
que você fala...
JOEL: Engraçado
não, meu bem, eu sou uma bicha vivida e rodada. Essa é a palavra certa: vivida.
GILBERTO: Bicha...
Você todo másculo desse jeito, musculoso, sarado... E ainda fica se chamado de
bicha... Você não existe mesmo...
Gilberto esboça um sorriso,
apesar de sua tristeza com a partida de Reynaldo.
Joana corre para o quarto, pega
o celular e liga pra Célia, que não consegue disfarçar a felicidade.
CÉLIA: Puxa!
Que bom! Estou muito feliz por você! Que notícia boa! Precisamos comemorar. O
que você acha? (ouve a resposta) Combinado, eu te encontro lá. Beijos.
JUSSARA
(entrando na sala): Comemorar o quê, mãe? Com quem? Aonde?
Célia fica sem resposta.
Continua segunda-feira...
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Você sabia?
Em
1977, Quebec tornou-se a primeira jurisdição estadual do mundo a proibir a
discriminação em razão da orientação sexual. Durante os anos 1980 e 1990, os
países mais desenvolvidos promulgaram leis que descriminalizaram a conduta
homossexual e proibiram a discriminação contra gays e lésbicas no emprego,
habitação e serviços.
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