No capítulo anterior...
- Jussara questiona a amizade de Célia e
Joana. A mãe diz que Joana é uma boa menina
- Jussara alega a incompatibilidade de idades
e o fato de Joana ser lésbica
- Célia condena o preconceito da filha e diz
que ela não tem direito de escolher suas amizades
- Reynaldo sugere ir ao interior conhecer a
família de Gilberto, mas o rapaz é contra
- Bebel sai com um homem, mas no final, o
cliente se recusa a pagar o programa
CAP. 159
BEBEL: Gato,
você tá curtindo com a minha cara e eu não tô gostando nada disso! Desde o
primeiro momento eu te falei que eu não dava rolé, que eu fazia programa, que
eu cobrava por isso e você topou. Agora não me venha com gracinha não que eu
vou ser obrigada a engrossar contigo!
CLIENTE: Que
é boneca? Vai me enfrentar? Me enfrenta pra você ver que eu vou te mostrar quem
é o macho aqui!
BEBEL: Eu
não quero confusão contigo, cara! Só quero a minha grana, só isso!
CLIENTE: Quer
grana mesmo? Vai trabalhar gracinha! Tá achando que grana cai do céu?
BEBEL: Cara,
eu tava quietinha aqui no meu canto, você que veio aqui me perturbar. Se não
tinha grana pra pagar o programa, pra quê que você veio torrar a paciência
aqui? Resolvesse lá no seu banheiro, no cinco contra um!
CLIENTE: Agora
você já tá começando a me ofender! Cai fora do meu carro, vai vagaba!
BEBEL: Só
saio daqui do com o meu dinheiro! Eu trabalhei e tenho direito de receber!
CLIENTE: Você
quem sabe! Se não sai por bem, sai por mal! (e dá um soco na cara de Bebel)
Irritada, Bebel revida o soco,
enquanto o cliente tenta abrir a porta do passageiro e empurrá-la pra fora do
carro.
Os dois começam a se agredir,
trocando socos. O cliente insiste em empurrá-la pra fora, enquanto Bebel leva a
mão no porta-luvas e pega a carteira do rapaz. Algumas travestis percebem a
confusão e correm para perto do carro. Mas antes que elas interfiram, uma
viatura da PM chega e os aborda. Os policiais cercam o carro rapidamente, de
arma em punho.
POLICIAL 1: Todo mundo pra fora! Todo mundo pra fora! Que
balbúrdia é essa aqui?
CLIENTE: É
esse traveco que tá querendo me assaltar, seu policial.
BEBEL: Não
senhor, seu policial. Esse cretino é que me chamou pra um programa e não queria
me pagar.
POLICIAL 1 (para
os amigos): Xi! Já vi tudo! Esse discurso é mais velho que andar pra frente.
(para os dois) Quem tá falando a verdade aqui? Vamos! Eu quero a verdade!
CLIENTE: Esse
traveco tava tentando me assaltar seu policial. Pode ver, aí a minha carteira
na mãe dele.
BEBEL: Não
seu policial, eu não tava tentando roubar ele, eu só queria a carteira como
garantia que ele ia pagar o meu programa.
O policial 2 arranca Bebel do
carro com estupidez e começa a lhe dar tapas.
POLICIAL 2: Seu traveco safado! Assaltando o cara né seu
sem-vergonha?! Vai arrumar um serviço decente, rapaz! Vira homem! (e dá-lhe
outro tapão)
POLICIAL 3: Opa! Para com isso soldado!
POLICIAL 2: Dá vontade de descer o braço numas coisas
dessas, chefe!
POLICIAL 3: Se contenha soldado! Eu não quero alteração
no meu serviço. Espera lá na viatura que eu resolvo a questão aqui. No quartel
a gente conversa.
O soldado repreendido pelo
chefe se afasta. As outras travestis tentam defender Bebel.
TRAVESTI: Seu
policial, minha amiga tá falando a verdade, o cara que veio aqui pegar ela pra
fazer programa.
POLICIAL 3: Vocês caiam fora daqui. Essa confusão não
lhes diz respeito. Vamos! Cai fora! Cai fora!
As travestis se afastam e ficam
murmurando de longe.
POLICIAL 1: E aí, chefe, o que a gente faz com esses
dois?
POLICIAL 3: O de sempre: leva todo mundo pro distrito.
CLIENTE: Não,
seu guarda, por favor, vamos resolver isso aqui mesmo. Eu sou um cara casado,
não posso ser exposto numa situação dessas! Isso pode arruinar o meu casamento.
POLICIAL 1: Você devia ter pensando nisso antes, né meu
camarada? Agora é tarde.
BEBEL: Não
seu policial, por favor, eu não fiz nada! Eu só tava querendo receber o que é
meu! Eu não fiz nada!
POLICIAL 3: Todo mundo é inocente, mocinha... Ninguém
nunca faz nada... Mas quem vai decidir isso é o delegado. Vamos! Todo mundo pra
viatura.
POLICIAL 1: Você tá com a carteira do cara na mão e não
fez nada? Isso é no mínimo muito estranho. Você não acha?
POLICIAL 3: Bora! Chega de conversa. Todo mundo pra
viatura. Vamos dar um passeio no distrito. Lá o delegado decide quem tem razão.
Bebel e o cliente entram na
viatura da polícia e seguem para o distrito.
Na entrada da sala do
delegado...
POLICIAL 3: Delegado, trouxe esse casalzinho aqui pra
fazer uma visitinha pro senhor. A mocinha disse que o rapaz procurou ela pra um
programa e depois não quis pagar. Já o rapaz, que é casado, tem mulher, filho e
tudo mais, disse que a mocinha tava era tentando assaltar ele. Se é verdade, eu
não sei. O fato é que encontramos a carteira dele na mão dela... O senhor vê o
que faz aí...
DELEGADO: Pode
deixar, tô acostumado com essas briguinhas conjugais...
Bebel fica olhando para o
delegado e um pensamento não lhe sai da cabeça.
BEBEL
(para si mesma): Essa cara não me é estranha... Eu conheço esse cara de algum
lugar... Mas de onde?
Continua amanhã...
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Você sabia?
A
maioria das nações não impede o sexo consensual entre pessoas não relacionadas
acima da idade de consentimento local. Alguns países também reconhecem
direitos, proteções e privilégios iguais para as estruturas da família de
casais de mesmo sexo, inclusive o casamento.
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