No capítulo anterior...
- O síndico se surpreende com o pedido, mas
aceita a demissão de Gilberto
- Joana e Célia se encontram no motel para
matar as saudades
- Célia confessa que vive um casamento de
aparências e não vê a hora de se separar do marido
- Célia cogita morar junto com Joana, mas
teme pelas reações das famílias
- Gilberto chega a São Paulo e Reynaldo o
beija na boca no aeroporto, deixando-o constrangido
CAP. 172
GILBERTO: Cara!
Você ficou maluco? Quer me matar de vergonha?
REYNALDO: Desculpe,
eu não resisti. Sempre tive vontade de dar um beijo gay em público e esse
momento é tão especial pra mim que eu não me contive...
GILBERTO: Você
é bem mais doido do que eu imaginava...
REYNALDO: Você
não imagina o quanto estou feliz com a sua vinda pra cá. Mas me diga: fez boa
viagem? Viu a cidade lá de cima, como é bonita?
GILBERTO: Nossa!
Eu fiquei impressionado! Parece que a cidade não acabava mais...
REYNALDO: Você
ainda não viu nada... Tem muito mais ainda... Vou te levar a lugares incríveis
que você nunca imaginou ir!
GILBERTO: Nem
sei como te agradecer por isso. Pra dizer a verdade ainda estou meio assustado
com tudo...
REYNALDO: Relaxa!
Aos poucos você se acostuma. Vamos, o carro tá lá no estacionamento. Tenho um
programinha especial pra essa noite.
GILBERTO: Você
é demais. Obrigado.
Bernardo entra na cozinha todo
alegre, com um envelope nas mãos.
BERNARDO: Veja
só, mãe, é uma carta do Recife e tá no nome da senhora... Parece um convite...
Lourdes abre o envelope.
LOURDES: Realmente
é um convite. É do casamento da Rosana.
BERNARDO: Nossa,
será que finalmente esse casamento sai?
LOURDES: É,
sua prima finalmente conseguiu dobrar aquele enrolado do noivo dela... Acho que
agora o casório sai mesmo.
BERNARDO: Que
maravilha! Nós vamos, não é mãe? Ai! Não acredito! Voltar no Recife de novo vai
ser tudo de bom!
LOURDES: Vamos
sim. Só não sei se seu pai poderá ir junto, por causa do trabalho. Mas nós
vamos, com certeza.
BERNARDO: Ai
que bom! Mal posso esperar.
LOURDES: Aliás,
vou dar uma ligada pra sua avó agora, pra contar que recebemos o convite e pra
saber como estão os preparativos lá...
Lourdes vai até a sala e liga.
LOURDES: Dona
Tita? Como vai a senhora? Acabamos de receber o convite do casamento da Rosana.
Estamos empolgados pra ir. Bernardo então, tá eufórico.
D. Tita diz algo do outro lado
da linha que a deixa desapontada.
LOURDES: Como
assim D. Tita? Que conversa é essa? Coisa mais estranha! Bom, se é assim, então
não entendi porque que nos enviaram convite, porque se tão excluindo o meu
filho, tão excluindo a mim também. Onde não cabe o meu filho, não me cabe
também. Nem o pai dele e nem os irmãos. Mas, como assim, quem disse isso? Tudo
bem, eu já entendi. Eu vou conversar com o Juarez aqui e ver o que a gente
faz... Então tá. Foi um prazer falar com a senhora. Até mais. (e desliga)
BERNARDO: O
que houve mãe? Parece que rolou um estresse nessa conversa... O que aconteceu?
LOURDES: Rolou
sim meu filho. Seu tio não quer que você vá ao casamento da Rosana.
BERNARDO: Por
quê? Mas eu e a Rosana sempre fomos tão amigos...
LOURDES: Por
causa daquele episódio da ceia de Natal. Ele tem medo que você arme algum
escândalo lá. Falou assim que você tá muito afeminado, que tem visto suas fotos
nas redes sociais e não quer que os familiares do genro dele saibam que tem
esse tipo de gente na família dele...
BERNARDO: Só
porque eu revelei que eu sou gay? Então só porque eu sou gay vou ser excluído
da família como se fosse um doente? Que coisa mais arcaica! Eu pensava que isso
só acontecia no século dezenove! Que absurdo! Gay, prostituta, usuário de droga
é igual fogão Dako: toda família tem um! Que coisa mais ridícula!
LOURDES: Seu
tio é muito atrasado e preconceituoso, filho, você sabe muito bem disso... De
qualquer forma, eu já falei que não vou. Onde não cabe meu filho, também não me
cabe. Depois vou falar com seu pai pra ver o que ele acha. Mas tenho quase certeza
que ele vai assinar embaixo da minha decisão.
BERNARDO
(triste): Puxa! Eu queria tanto ir ao casamento da Rosana...
Lourdes abraça o filho e o
afaga.
Bebel entra num quarto de motel
com um cliente. O homem tira um cigarro de maconha do bolso, acende e começa a
fumar.
CLIENTE: Aceita
um baseado aí, gata?
BEBEL: Não,
obrigado. Eu não curto essa parada não. Além do mais, eu tô trabalhando.
Pouco depois, o homem tira outro
embrulho do bolso, espalha o pó em cima do criado mudo e começa a cheirar,
repetindo o procedimento por várias vezes.
CLIENTE: Vai
uma branquinha aí, gata? Cheira aí, eu preparo uma pra você.
BEBEL: Não,
obrigado. Eu não curto essas paradas, já disse.
O rapaz, já visivelmente
alterado, fica agressivo. Agarra Bebel pelo braço e tenta forçar sua cabeça sobre
a carreira de cocaína.
CLIENTE: Cheira
aí, sua vagabunda! Cheira aí é que é pra você viajar comigo. Se não cheirar por
bem, vai cheirar por mal!
Bebel fica em pânico.
Continua amanhã...
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Você sabia?
Com a
eclosão da AIDS no início dos anos 1980, muitos grupos e entidades LGBT
organizaram campanhas para promover esforços na educação sobre a AIDS,
prevenção, pesquisa, apoio a pacientes e extensão à comunidade, bem como para
exigir no apoio do governo para esses programas. O número desconcertante de
mortos no início da epidemia de AIDS pareceu retardar o progresso do movimento
dos direitos dos homossexuais, mas com o tempo algumas partes da comunidade
LGBT foram reanimadas com o serviço da comunidade e a ação política e
desafiaram a comunidade heterossexual para responder com compaixão. Filmes de
grandes estúdios estadunidenses que, a partir deste período, dramatizaram a
resposta de indivíduos e de comunidades para a crise da AIDS incluem uma An Early Frost (1985), Longtime Companion (1990) e Filadélfia (1993).