No capítulo anterior...
- Joaquim e Carlete chegam a São Paulo, mas
Susette deixa claro que não terão vida fácil
- Juarez comunica que em breve toda a família
terá de se mudar para Brasília
- Joaquim e Carlete tentam fazer programa,
mas logo uma travesti os expulsa do ponto
CAP. 98
CARLETE
(nos ouvidos de Bebel): Bicha! Melhor a gente dar o fora daqui. Você viu a
navalha na bolsa da trava?
BEBEL: Vamos
sair de fininho, a gente procura outro lugar...
TRAVESTI 2: E aí, as bonecas vão querer conhecer a fúria
das Imãs Metralha?
BEBEL: Não,
querida, foi apenas um engano. A gente já tá indo embora. Tchauzinho. (e sai
seguido por Carlete)
TRAVESTI 1: Melhor assim. E não apareçam aqui nunca mais!
Tão achando que travesti é bagunça?
Bebel e Carlete passam por
várias ruas, mas sempre encontram alguma travesti fazendo ponto e a recepção é
sempre a mesma: cara feia, ameaças, etc.
No Recife, Bernardo e Pâmela
caminham pela praia, descalços, na beira da água.
PÂMELA: Ai,
que peninha você ter de ir embora... Justo agora que as coisas começaram a
melhorar, que a gente poderia curtir mais a nossa amizade...
BERNARDO: Pois
é, eu também tô muito chateado, justamente por causa disso. E por causa do
Ramon também. Só de pensar que nunca mais vou ver o meu príncipe, ai, me dá uma
vontade de chorar...
PÂMELA: Não
fique triste, querido. A vida é cheia de idas e vindas assim mesmo. Quem sabe
lá em Brasília você não conhece outro príncipe? E o que é melhor: que corresponda
aos seus sentimentos. Porque pelo que você me falou, esse Ramon não corresponde
ao amor que você sente por ele...
BERNARDO: É,
corresponder, corresponder, não. Mas a gente tava começando a se entender
ultimamente.
PÂMELA: Mas
não se engane meu querido. Ou corresponde, ou não corresponde. Não tem meio
termo. Você não pode passar a vida inteira sonhando com um cara que não te dá valor.
A vida é muito curta pra ser desperdiçada...
BERNARDO: Eu
sei, mas como dizer isso pro nosso coração?
Em Blumenau, a família janta
reunida quando Joana adentra a copa.
JOANA: Pai,
que história é essa de mudança pra Brasília?
TATÃO: Então,
se você tivesse vindo jantar com todo mundo, na hora que eu chamei, já tava
sabendo de tudo...
JOANA: Ih!
Vai começar o sermão...
TATÃO: É
isso que você disse: nós vamos nos mudar para Brasília. É só o tempo de
arranjar algum lugar lá pra gente morar, organizar as coisas e a gente vai
embora.
JOANA: Antes
de começar o ano letivo?
VANILDA: Antes
disso. Vocês já começarão o ano estudando lá.
JOANA: Que
legal, porque eu já tava de saco cheio daquela galera da escola, principalmente
de uma certa pessoa...
BEATRIZ: Do
Sérgio, né? E de quem você não está de saco cheio Joana? Só sabe dizer isso...
VANILDA: Vocês
duas não comecem! Respeitem a mesa e o jantar.
RENATA: Eu
já vi na internet, a cidade lá parece ser muito bacana.
TATÃO: É,
mas não se iluda filha, lá é muito diferente daqui, principalmente o clima. No
começo acho que todos vão estranhar bastante.
JOANA: E
por que deu a louca no senhor de mudar assim, de uma hora pra outra?
TATÃO: Não
“deu a louca”, Joana. Diferente de você, eu penso muito antes de fazer as coisas.
É uma ideia que venho amadurecendo há um bom tempo e agora surgiu uma boa
oportunidade de negócio lá. Acho que é a hora de aproveitar.
JOANA: Tá
bom, seu Tatão, seja feita a sua vontade...
TATÃO: Senta
aí e come, antes que esfrie.
Bernardo e Pâmela continuam a
caminhada e a conversa.
PÂMELA: Sem
querer ser indiscreto, mas, além desse Ramon, você já teve outros namorados, já
transou com outros rapazes?
BERNARDO: Eu
não tive nenhum namorado, mas já transei com outros rapazes.
PÂMELA: E
aí, como foi?
BERNARDO: Mais
ou menos. Em todas as minhas relações eu fui o passivo, mas não sei, de alguma
forma eu me senti desconfortável, entende?
PÂMELA: Mas,
por quê? Você gostaria de ter sido o ativo e não teve oportunidade?
BERNARDO: Não,
de jeito nenhum. Mas esse negócio de sexo anal, isso não me agrada muito...
Você consegue entender o que eu tô tentando explicar?
PÂMELA: Entendo
muito bem. Eu também me sentia assim desde as minhas primeiras relações...
BERNARDO: É
mesmo?
PÂMELA: Sim.
Desde pequena sempre me sentia mulher. Eu tinha atração por rapazes, mas não
queria fazer sexo anal como os gays, ou como as travestis. Eu queria ser mulher
de verdade, ter a minha vagina pra só então fazer um sexo completo com um
homem. Claro que eu tive muitas relações anais, até fazer a cirurgia, mas me
sentia como você: incompleto, insatisfeito, desconfortável...
BERNARDO: Sabe,
eu nunca confessei isso pra ninguém, mas você me passa tanta segurança, que pra
você eu vou confessar: eu também nunca me senti homem. Eu sempre me vi como uma
mulher. Desde pequeno só gostava de coisas de mulher. Pra mim tem sido uma
barra, principalmente depois da puberdade, quando as características masculinas
começam a aparecer e as pessoas começam a te cobrar por isso. Se você fala
fino, todo mundo ri de você, se tem gestos delicados, todo mundo te chama de
bichinha. Se veste uma roupa diferente, todo mundo te chama de pintosa...
PÃMELA: Pra
mim você nem precisava dizer nada, eu já tinha te sacado desde quando a gente
se conheceu...
BERNARDO: Pâmela,
como eu faço pra virar uma mulher de verdade?
Continua amanhã...
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Você sabia?
Os
dados da pesquisa também indicam que entre 18% e 28% dos casais gays e entre 8%
e 21% dos casais lésbicos nos Estados Unidos viveram juntos dez anos ou mais.
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