No capítulo anterior...
- Joana se irrita com a presença de Lorraine,
que pouco a pouco conquista sua confiança
- Lorraine insinua que Joana está apaixonada
por outra garota
- Joana reluta em aceitar, mas acaba se
abrindo e dando a entender que Lorraine tem razão
- Simone e Airton fofocam sobre Bernardo
quando são surpreendidos pelo próprio
CAP. 130
SIMONE
(sem graça): Oi Bê! Não sabia que você tava aí...
BERNARDO: Vocês
querem mesmo saber o que pegou lá no quartel?
AIRTON: Não...
Bobagem, a gente só tava conversando aqui...
BERNARDO: Eu
conto. Sem problemas. Eu armei um barraco lá e falei que não queria servir de
jeito nenhum. Falei que eu era gay e não daria certo ficar aprisionado no meio
de um tanto de homens daquele.
SIMONE: Jura?
Você teve coragem?
BERNARDO: Na
verdade eu fiz muito pior. Mas não vem ao caso entrar em detalhes agora...
AIRTON: Então
é por isso que o pai tá boladão com você...
BERNARDO: Boladão
ele ficaria é se eu tivesse entrado lá... Meu pai precisa entender que é que
nós não somos os soldadinhos do quartel que ele manda e eles são obrigados a
obedecer. Nós temos vontades próprias e essas vontades precisam ser
respeitadas... Eu quero fazer a minha faculdade, me formar... Não poderia
perder anos da minha vida dentro daquele quartel apenas para satisfazer as
vontades dele...
SIMONE: É,
não posso deixar de reconhecer que você foi corajoso, enfrentando o papai desse
jeito... Acho que eu não teria essa coragem...
AIRTON: Nem
eu...
BERNARDO: Também
não pensava que tivesse, mas dizem que é a necessidade que faz o sapo pular...
Quando me vi obrigado a entrar naquele quartel, tirei coragem nem sei de onde
pra desafiar o velho e fazer valer a minha vontade. E digo mais a vocês: se
precisasse eu faria tudo de novo. Sou muito grato a tudo que os nossos pais
fizeram por mim, mas também quero ter o direito de escrever a minha própria
história...
Airton e Simone se olham
admirados com a segurança de Bernardo.
DIAS DEPOIS...
Gilberto toma um demorado
banho, se perfuma, sempre conferindo a hora no relógio. Está ansioso pela
chegada de Romero.
GILBERTO: Puxa!
Tá demorando... Mania que esse cara tem de atrasar...
Os minutos vão se passando e
nada. Logo passa uma hora e nem sinal de Romero. Impaciente, Gilberto liga para
Joel.
JOEL
(deitado na sua cama): Eu já não te falei bichinha que esse Romero só tá te
fazendo de trouxa? Aposto que encontrou algum programa mais interessante e te
botou pra escanteio...
GILBERTO: Como
assim? A gente tava de boa, saímos várias vezes nos últimos dias e ele sempre
me pareceu muito interessado...
JOEL: Interessado
porque não tinha aparecido nada melhor, Gilbertina! Se liga mona! Entenda uma
coisa: ele tá seguro de que te tem na mão, então, quando não aparece nada
melhor ou diferente, ele fica com você. Quando aparece outra novidade, ele dá
no pé e te deixa chupando o dedo... Sabe que quando voltar, você engole
qualquer desculpa e fica por isso. Romero é uma bicha rodada e tá careca de
saber que você tá apaixonada por ele. Sabe que você tá comendo na mão dele feito
um passarinho...
GILBERTO: Mas
então, o que eu devo fazer?
JOEL: Dispensa
esse cara! Dá um chute no traseiro dele. Iguais a esse Romero tem dezenas aí na
praça...
GILBERTO: Mas
eu gosto tanto dele...
JOEL: No
começo você vai sofrer um pouco, mas depois supera.
GILBERTO: Ah...
Não sei! Prefiro esperar mais um pouco. Acho melhor não tomar nenhuma atitude
precipitada. E se ele tiver algum motivo sério pra se atrasar? Vou ser injusto
com ele e isso não é legal...
Depois que desligam os telefones...
JOEL
(para si mesmo): Coitada da Gilbertina! O pior cego é aquele que não quer ver!
Já é noite quando o
caminhoneiro se aproxima de um trevo que dá acesso à Brasília. Bebel cochila no
banco do carona.
Alguns quilômetros adiante o
motorista deixa a rodovia e adentra o estacionamento de um posto de gasolina.
Com a manobra, Bebel acorda.
CAMINHONEIRO: Aí moça, chegamos ao destino.
BEBEL: Aqui
é Brasília?
CAMINHONEIRO: Estamos num trevo que dá acesso à cidade. É o
fim da linha pra você. Eu vou pernoitar aqui, pra amanhã bem cedo pegar minha
carga e rumar de volta pra Belém.
BEBEL: Será
que aqui nesse posto consigo alguma carona pra São Paulo?
CAMINHONEIRO: Eu não posso te garantir nada. Mas não custa
tentar, não é mesmo?
BEBEL: Verdade.
Melhor eu pegar minhas trouxas e me mandar. Eu lhe agradeço muito por essa
carona. Me ajudou bastante.
CAMINHONEIRO: Não foi nada. Foi até bom que você me fez
companhia. É bom viajar conversando com alguém. Pelo menos a gente não corre o
risco de dormir na estrada. Ainda mais numa viagem longa como essa.
BEBEL (pegando
suas coisas): Mais uma vez, muito obrigado. Nem sei como lhe agradecer.
CAMINHONEIRO: Boa sorte! Você vai precisar.
Bebel desce, olhando para um
lado e para outro, observando o movimento. Ela se dirige ao banheiro para tomar
um banho e relaxar das longas horas de viagem. Em seguida segue para o restaurante, onde os
caminhoneiros se reúnem para conversar antes de pegar a estrada.
BEBEL
(para si mesma): Tomara que tenha a mesma sorte e consiga uma carona rápida pra
São Paulo! Ainda tem chão pra burro!
Continua amanhã...
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Você sabia?
Como
não havia nenhum respaldo científico que provasse ser a homossexualidade uma
doença ou um distúrbio mental, os profissionais em medicina, saúde mental e em
ciências comportamentais e sociais chegaram à conclusão de que era incorreto
classificar a homossexualidade como uma desordem mental e que a classificação como
Distúrbio Mental refletia pressupostos baseados em normas e conceitos sociais
(preconceito), não tendo, portanto, valor científico.
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