No capítulo anterior...
- Joel orienta Gilberto a se fazer de difícil
e não facilitar as coisas para Romero
- Romero insiste na mentira da tida doente e convida
Gilberto para ir à sua casa. Ele fica radiante.
- O tenente orienta os rapazes para tirarem a
roupa. Bernardo hesita, atraindo a atenção de todos
- Pressionado pelo tenente, Bernardo tira a
calça. Ao invés de cueca, ele usa uma calcinha rosa, chocando a todos
CAP. 123
O tenente joga o gorro no chão
e sapateia em cima, inconformado.
TENENTE: Eu
não acredito! Meus olhos estão me traindo! O cidadão vem fazer exame no
Exército usando uma calcinha rosa de rendinha? Não, não, não! Isso não é
possível!
Sério e irritado, o tenente
atravessa a sala e para bem de frente a Bernardo, encarando-o nos olhos.
TENENTE: Ô
cidadão, você pode me explicar que palhaçada é essa? Tu tá de deboche? Alguém
aqui tem cara de palhaço?
BERNARDO: Não
senhor.
TENENTE: Você
botou isso aí só pra dar o seu showzinho aqui no meio da galera ou você usa
isso aí no seu dia a dia?
BERNARDO: Uso
sim senhor!
TENENTE: Ai
meu Deus! O mundo tá perdido mesmo!
O capitão médico faz um sinal
para o Tenente, para que ele pare.
TENENTE: Eu
ainda acho que o senhor tá de sacanagem com a gente aqui. Mas em todo caso,
vamos lá. Tem gosto pra tudo né?
CAPITÃO: Vamos,
meu rapaz, acabe de tirar a roupa. Eu preciso começar o exame.
Apesar do clima tenso, os risos
são inevitáveis.
Em outro ponto da cidade, Joana
conversa com a mãe enquanto ela prepara um café.
VANILDA: Minha
filha, você não acha que sua amizade com essa colega da escola tá indo rápido
demais não? De vez em quando essa mulher te leva pra almoçar, te leva pra passear,
pra estudar na casa dela... Tô achando isso meio estranho...
JOANA: Estranho
nada, dona Vanilda. A Jussara e eu nos tornamos grandes amigas, temos
afinidades, só isso. E a mãe dela gosta muito de mim. Que mal há nisso?
VANILDA: Não
sei, mas pelo visto essa mulher é bem de situação e gente rica não costuma ser
tão afeiçoada assim a qualquer um...
JOANA: Bobagem.
Quando a senhora conhecer a Célia, vai ver que é uma pessoa muito legal.
VANILDA: Assim
espero...
Na estrada, rumo a Belo
Horizonte, o caminhoneiro conversa com Bebel.
CAMINHONEIRO: Desculpa eu te perguntar, mas eu tenho umas
curiosidades a respeito dessa vida que você leva.
BEBEL: Pode
perguntar. Eu não me importo.
CAMINHONEIRO: Você é assim desde pequeno? Nunca teve
vontade de pegar mulher?
BEBEL: Eu
não! Eu não tô louca! Mulher pra mim, só pra lavar roupa e limpar a casa.
Aliás, nem pra isso eu não preciso, que eu mesma faço...
CAMINHONEIRO: Nossa, mas mulher é bom demais. É a melhor
coisa que existe no mundo...
BEBEL: É,
tem gosto pra tudo... Eu sempre gostei de homem. Desde pequeno eu adorava
brincar com os meninos, só pra ficar me agarrando com eles...
CAMINHONEIRO: E como foi a sua primeira vez? Como você
perdeu a virgindade?
BEBEL: Eu
era pequeno, tinha uns dez anos de idade. Foi com um tio meu, coroa, irmão do
meu pai. Ele era safado, sacava que eu gostava da coisa... Aí um dia, ele me
levou pra casa dele, deu um jeito da gente ficar sozinho e inventou que ia
tomar banho, ficou pelado na minha frente e aí rolou...
CAMINHONEIRO: Então você era safadinho desde pequeno?
BEBEL: Ah...
Eu já aprontava desde cedo. Atendi todos os coleguinhas da rua...
CAMINHONEIRO: E quando você começou a se vestir de mulher
assim?
BEBEL: Isso
tem pouco tempo. Eu morria de medo do meu pai, então tinha de disfarçar de todo
jeito. Depois eu comecei a fazer programa na rua, aí uns colegas da escola me
viram de mulher e contaram pra ele. O brucutu me deu a maior surra... Aí saí de
casa, fui pra São Paulo, voltei pra Belém e agora tô indo de novo...
CAMINHONEIRO: Nossa, então sua vida é bem movimentada...
Nisso o caminhoneiro entra num
posto para fazer uma parada. A conversa é interrompida.
De volta ao quartel, após o
tumultuado exame médico, os rapazes estão no galpão, aguardando a entrevista.
Ao fundo do recinto há algumas mesas com cadeiras, onde se sentam entrevistadores
e entrevistados. Os demais rapazes aguardam sentados no chão, enquanto são
observados por alguns cabos e sargentos.
Bernardo é chamado para a
entrevista.
TENENTE: Seu
Bernardo, apesar do incidente lá no exame médico, todo o processo de avaliação
indica que o senhor será incorporado ao Exército. Além do mais, há uma
observação aqui na sua ficha. Isso significa que temos uma ordem superior para
incorporá-lo. A pergunta é a seguinte: o senhor tem mesmo certeza de que quer
servir ao Exército?
Bernardo fica pensativo.
Continua amanhã...
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Você sabia?
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