No capítulo anterior...
Joaquim concorda em fazer um programa de
graça em troca do silêncio do vizinho
Depois de passar mais uma noite na rua,
Gilberto resolve se abrigar na casa de Boneca
Joaquim corre para chegar em casa antes do
dia amanhecer, mas a mãe o surpreende
CAP. 12
HELENA: Vamos,
o gato comeu a sua língua?
JOAQUIM: A
senhora esqueceu, mãe? Eu não disse que ia dormir na casa do Carlinhos para
fazer um trabalho de escola? A senhora tá com uns parafusos a menos...
HELENA
(se lembrando): Ah... É mesmo! Que cabeça a minha... Mas xispa daqui e vai logo
pro quarto. Seu pai não sabe que você dormiu fora e se ficar sabendo vai me
encher o saco. Vamos, xispe e raspe daqui e só levante da cama depois que ele
tiver saído!
Joaquim parte apressado para o
quarto. Fala consigo mesmo.
JOAQUIM: Ufa!
Dessa eu escapei por pouco...
No Recife, a turma se prepara
para a aula de educação física. Rapazes numa quadra, moças na outra. Depois do
aquecimento o professor começa a escalar os times. Bernardo é designado para
completar um time de futsal. Mas logo começa a chiadeira.
ALUNO 1: Não
professor, o “Bernadete” não... Esse cara não joga nada! Aliás, nem jogar bola
ele sabe!
ALUNO 2: Fala
sério, professor, esse jogo é masculino, aqui não tem vaga pra moça não!
ALUNO 1: Ah
nem! Se for pro “Bernadete” jogar no nosso time eu prefiro ficar de fora!
PROFESSOR: Galera,
vamos parar com essa palhaçada! O Bernardo faz parte da turma e vai jogar no
time sim! Quem não tiver satisfeito, que fique sem jogar então.
BERNARDO
(sem graça): Esquenta não, professor. Eu prefiro mesmo ficar de fora... Se
fosse pra escolher eu preferia jogar um vôlei...
PROFESSOR: Não
senhor, o seu lugar é aqui. Vai jogar futsal com a turma.
Bernardo entra em quadra
contrariado. Sua atuação é desastrada: não consegue acertar um passe, sem falar
nos chutões fora de rumo, que quase sempre resultam em cobrança de laterais
para o time adversário. Cada vez que toca na bola é seguido por um coro de
vaias e comentários preconceituosos, além daqueles que dizem respeito única e
exclusivamente à sua falta de habilidade. E a cada lance a chiadeira continua.
ALUNO 1: Tira
o “Bernadete”, professor! Assim o nosso time vai perder!
ALUNO 3 (do
time adversário): Tira não, fessor! O cara joga demais! (risos) Ele é quase um
Neymar... De saias, mas é (risos generalizados)
ALUNO 3: Sei!
Tá mais pra uma “neymarete”, isso sim!
Não tem jeito, o time de
Bernardo perde de lavada: 5 a 0. E na volta para os vestiários, é impossível
não ouvir os comentários maliciosos.
ALUNO 2: Ah
nem! Se não fosse esse prego a gente tinha ganhado!
ALUNO 1: Esse
baitola tem de jogar é peteca! No nosso time esse cara não joga mais!
ALUNO 2: Dá
vontade de descer o braço num cara desses pra ver se ele vira homem!
Bernardo fica chateado com as
piadinhas, mas não esboça reação, afinal de contas, já está acostumado. Há
vários anos, desde as primeiras séries, é sempre assim... Seu jeitinho meigo,
delicado, e sua falta de habilidade para as atividades masculinas sempre
provocaram a ira de seus colegas de turma.
Final da tarde, Boneca chega da
lavoura.
GILBERTO: Não
sei se você vai gostar, mas fiz uma janta aqui.
BONECA: Prendado
o rapaz... Fez janta, limpou a casa (constatando a limpeza)...
GILBERTO: Tentei
dar uma ajeitada nas coisas. Espero que não fique zangado se eu tiver tirado
alguma coisa do lugar.
BONECA: Sem
problemas. De qualquer forma, está melhor do que antes. Na verdade eu só limpo
casa no final de semana, é quando tenho tempo.
GILBERTO: Como
foi o dia lá? Viu meu pai, meus irmãos?
BONECA: Alguns
colegas notaram sua ausência, mas seu pai não disse nada, só respondeu que você
não era mais filho dele e não sabia onde você esta. Falou que você tinha sumido
de casa. Foi esse o comentário que ouvi lá. (instantes) Eu conversei com o seu
Moisés lá da administração e ele falou que amanhã você pode ir lá receber seu
dinheiro.
GILBERTO
(triste): Dos males o menor. Pelo menos uma notícia boa...
A noite cai. O relógio marca
vinte e três horas e trinta minutos e nem sinal de Joana. Os irmãos não sabem
de seu paradeiro. Vanilda caminha impaciente pela sala. Olha no relógio, corre
no portão, olha no relógio e nada!
O relógio já marca mais de duas
horas da manhã.
VANILDA: Meu
Deus do ceú! Onde será que a Joana se meteu?
Continua segunda-feira...
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Você sabia?
É
incorreto usar a palavra HOMOSSEXUALISMO para se referir a pessoas que não são
heterossexuais. O sufixo “ISMO” se refere a doença e desde 1973 a homossexualidade deixou de ser
classificada como doença, distúrbio ou perversão pela Associação Americana de
Psiquiatria.
Portanto,
o termo correto é homossexualidade.
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