No capítulo anterior...
Joaquim fica eufórico por ter recebido uma
gratificação bem acima do valor do programa
Diante das atitudes do pai, Gilberto acredita
que Avenor o levará de volta pra casa
Avenor compra passagens na rodoviária e
obriga Gilberto a ir embora da cidade
CAP. 17
Gilberto estende as mãos
trêmulas e pega as passagens. Mal pode acreditar no que o pai acabara de lhe
dizer. Até então sonhava com o perdão. Ele embarca. Avenor vira as costas e
sai. O ônibus começa a se deslocar pela rua e Gilberto não consegue conter as
lágrimas. Pela janela, fica observando o pai, até que após uma curva a
cidadezinha vai ficando pra trás...
Catarina não se conforma quando
Avenor chega em casa e relata o ocorrido.
CATARINA: Eu
não acredito numa coisa dessas! Você teve coragem de fazer isso com o seu
filho?
AVENOR: Queria
o quê? Que eu trouxesse o boiolinha aqui pra dentro de casa, ou deixasse ele lá
morando com o outro sem vergonha? Já não basta eu sair na rua e ficar sendo
apontado pelos outros? Já não basta virar motivo de piada e deboche na cidade?
CATARINA: Homem,
mas é o nosso filho! A gente não cria família pra abandonar na rua como se
fosse um cão sarnento. É sangue do nosso sangue...
AVENOR: Ele
que pensasse nisso antes de fazer a besteira que fez! Meu pai sempre falava: a
gente tem que cortar o mal pela raiz! E que isso sirva de exemplo para os
outros filhos também! Quem pensem muito bem antes de fazer as suas besteiras,
porque não tô aqui pra passar a mão na cabeça de ninguém!
CATARINA: Seu
pai... Seu pai... Na sua época os tempos eram outros, homem... O mundo
evoluiu...
AVENOR: Evoluiu...
Evoluiu pra sem-vergonhagem, isso sim! Comigo não tem essa de evolução não...
Comigo é assim: escreveu, não leu, o pau comeu! Eu fui criado assim: meu pai
era duro, batia, xingava, espancava, não passava a mão na cabeça não. Por isso
que eu virei gente de bem!
CATARINA: Já
vi que não adianta, você é o homem mais cabeça dura que eu já vi...
AVENOR: Cabeça
dura mesmo. Safadeza comigo não tem vez não!
Catarina desiste da conversa.
Ela vai até o quarto de Gilberto, abre o guarda-roupa, olha suas coisas, sua
bicicleta, seu violão, senta na cama e chora amargamente.
Em Blumenau, Vanilda lava roupa
na máquina enquanto Tatão corta as unhas.
VANILDA: Eu
tava morrendo de preocupação por causa da hora, mas pra falar a verdade, fiquei
feliz em ver a Joana com um rapaz, afinal, já tava passando da hora dessa
menina arrumar um namorado. Quem sabe agora ela não toma um pouco de juízo?
TATÃO: Sei
não... Acho bom não ficar dando corda demais não... Sem incentivar esse povo de
hoje já apronta, imagina se a gente incentivar...
VANILDA: Tô
comentando só com você. Nem com ela eu não falei nada.
TATÃO: Namorar
até pode, mas não quero saber de marmanjo na minha sala até de madrugada não. E
muito menos de esfrega-esfrega no portão da rua. Não quero que filha minha vire
motivo de falatório na vizinhança. Você sabe muito bem como esse povo é
falador...
VANILDA: Pode
deixar, na primeira oportunidade vou ler o be-a-bá pra ela. Se bem que a Joana
você sabe muito bem como ela é: só escuta o que quer...
TATÃO: E
você tem orientado essas meninas, explicado pra elas como é que se faz pra
evitar barriga, doenças, essas coisas?
VANILDA: Eu
tento, mas elas sempre negam, fogem do assunto...
TATÃO: Pois
é, acho bom você ficar de cima. Conselho nunca é demais. Senão daqui uns dias você
tá com o gurizinho aqui dentro de casa pra criar.
VANILDA: Deus
me livre, vira essa boca pra lá!
BEATRIZ
(interrompendo): Acabei de passar um café fresquinho. Alguém vai querer?
TATÃO: Você
fazendo café? Esse eu quero experimentar... Traga lá...
No Recife, no ginásio do
colégio, os alunos do time de futsal treinam para a Olimpíada Estudantil, que
acontecerá em algumas semanas. Ramon é o craque do time. Assim que Bernardo
entra, seus colegas de turma gritam, vaiam, e assoviam. Ele senta no meio da
galera e fica assistindo à partida.
Toda vez que Ramon toca na
bola, os rapazes gritam gracejos, fazem piadinhas, sempre envolvendo o nome de
Bernardo.
ALUNO 1: Ramon
on... a Bernadete tá aqui...
ALUNO 2: O
seu bofe veio te ver, Ramon!
ALUNO 3: Ô
Ramon! Faz um gol pra sua “Detinha”, faz...
Ramon se irrita com as
provocações. Assim que o jogo termina, vai direto na arquibancada onde está a
sua galera. Ele pega Bernardo pelo colarinho da camisa, o levanta do chão e o
pressiona contra a parede.
RAMON
(nervoso): Que palhaçada é essa?! Você pode me explicar porque que tá todo
mundo tirando onda com a minha cara?
Continua amanhã...
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Você sabia?
Em
1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra
homossexuais uma violação aos direitos humanos.
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